.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

22/03/2023

hoje comemora-se o dia do pateta. que é quase poeta







que dia foi este o da poesia. fico sempre sem saber se me atire abaixo da janela. ou mando a canzoada ladrar enquanto a caravana passa – mas é assim. hoje temos dias para tudo. só não temos dias para alguns totós que teimam em dizer que escrevem poesia – se mandasse na UNESCO. nessa malta que inventa dias para tudo. hoje seria o dia dos que não escrevem poesia – quem sabe se essa gente vaidosa e tresloucada. antes de começar a escrever. começasse a ler – o primeiro livro que aconselhava seria o da humildade. e não são assim tantas páginas. lê-se de uma penada – quando lemos boa poesia. pelo menos no meu caso. sobe-me uma vergonha por mim acima. fico às portas da morte – depois fico a pensar: o que ando aqui a fazer? deveria ter decoro. sou tão mau – e não estou a ser humilde. sou mesmo mauzinho. vá lá. em vez de mauzinho. talvez seja refugo – a minha sorte é que anda por aí muita gentinha que nem a refugo chega. e acaba por me salvar. torna-me menos mauzinho entre os maus – eu sempre me neguei a escrever poesia. às vezes faço uma incursão por essa arte. mas depressa volto para a minha prosa. esbaforido.  escancelado. com as mãos juntas. a pedir perdão eterno aos poetas – a prosa protege-me – todos aqueles que sabem juntar as letras são escritores. não importa se bem ou mal. com erros ou sem eles. o importante é ir andando. escrever para reinar no nosso quintal – em prosa podemos escrever dez páginas para dizer o que a poesia diz numa palavra.  podemos escrever sem parar. contar histórias verdadeiras ou falsas. numa passagem de papel. ou numa resma. criar hipérboles gigantescas. e com tanto exagero. até acreditamos que chegamos ao olimpo. como se fossemos um escritor a sério. e aparece o eugénio. e logo chega o pessoa. e mais a sophia. e quando damos conta somos mais de cem. todos poetas. todos menos eu. que escrevo prosa e não é coisa fina – já escrever poesia é coisa fina. quem a escreve é poeta. e nem toda a gente que escreve poesia é poeta. a maior parte das vezes é pateta. é malta que não lhe chega um banco e quer um escadote. é malta que começou a escrever há dois dias e já transporta o estandarte de criador de arte – esta malta arrogante. não gosta de poesia. gosta de coisas fáceis. quer gastar as palavras. quer notoriedade no seu quintal. na sua rua. no seu grupo de amigos que também nunca leram poesia – é muito mais fácil de enganar o parolo. ou a família. que nos ama incondicionalmente – o dia da poesia é hoje comemorada por uns quantos pseudos qualquer coisa.  que nunca leram um poema. que nunca compraram um livro de poemas. que nunca se interrogaram: para que serve a poesia? e a resposta é tão simples: a poesia serve para tornar a nossa vida mais bonita. tornar o mundo mais belo – claro que podíamos dar uma resposta mais douta. mais rebuscada e dizer: “A Poesia é um texto poético, geralmente em verso, que faz parte do gênero literário denominado "lírico". Ela combina palavras, significados e qualidades estéticas. nela, prevalece a estética da língua sobre o conteúdo, de forma que utiliza de diferentes dispositivos fonéticos, sintáticos e semânticos.” – com esta definição de poesia noventa e nove porcento dos que se dizem poetas deixariam de o ser – há hoje uma vaga de poetas que não quer o mundo mais bonito. querem-se a eles mais bonitos. tornam-se rapidamente vaidosos. arrogantes. e pouco dados ao recato intelectual. preferem o festão. o pimba das letras – por isso não comemoro o dia da poesia. comemoro o dia dos poetas. porque esses. não me tentam aldravar. esforçam-se. transpiram. e diariamente lutam por cada palavra. porque sabem que para cada palavra bem apurada. nasce um poema de encantar. e o mundo fica mais bonito

 

 

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