.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

30/12/2024

o que está para trás. lá trás permanecerá – bem-vindo 2025

 




estamos às portas de mais um ano. o que significa que também ficaremos um ano mais velhos. para mim. cada aniversário é uma tragédia. mas sei que faz parte da caminhada. a sorte é que todos envelhecemos juntos. ninguém fica para trás – 2024 foi um bom ano. considero-o um ponto de partida. se fosse uma corrida de fórmula 1. diria que fui às boxes para trocar de pneus. agora. quero chegar o mais rápido possível a um lugar que não sei onde fica. mas sei que preciso de continuar a corrida – o fim de um ano permite-nos fazer reset: apagar o que foi de menos bom. reabastecer a alma de esperança.  e acreditar de que o próximo ano será ainda melhor. dar aquele passo que sempre tememos. dizer aquela palavra que guardamos para momentos especiais. concretizar o negócio que sempre ansiamos. ou então dar muitos abraços a quem merece. e quem sabe. encontrar aquela pontinha de sorte que tantas vezes sentimos faltar ao longo da vida – quem sabe. em 2025 eu seja agraciado com um momento de sorte memorável. mantenho a fé – todos na minha família tiveram saúde. que é sempre a base essencial para a felicidade e sucesso. por isso. sinto-me sempre um pouco ingrato quando me lamento de algo mais penoso. é necessário lembrar que a gratidão harmoniza todas as dificuldades – eu e a maria joão seguimos na nossa caminhada. envelhecemos juntos. acreditando que assim será até ao último dia – no trabalho. essa coisa maldita que nos tira os sorrisos. continuamos os dois com a nossa luta. teimando para que o nosso sonho continue a ser o aditivo que nos sustenta. com força. empenho e resiliência – não tem sido uma caminhada fácil. mas também já não temos idade para ter medos. viver é isto: sofrer. rir. sonhar. chorar e recomeçar tudo de novo quando o nosso castelo desaba – com a chegada do réveillon. chega sempre o natal. e como sempre. especial. vivemos o ano à espera desse dia. há algo transcendental em juntar a família numa comunhão de amor cristã. mesmo que a minha fé já se tenha perdido – o natal também é importante para recordar os que já não estão entre nós. e há tanta gente que gostaria de ter a meu lado – revê-los é sempre uma saudade açucarada – por isso recordo a minha cunhada zeza com aquele sorriso feito de leveza. inocência e vaidade. ainda deve andar por aí a ver as montras – o meu sogro. nunca mais tivemos na família um silêncio-doce como o dele. que nos permitia perguntar: será preciso tanta palavra para demonstrar o quanto nos amamos? lembro-me também do tio joão. já passaram tantos anos desde o seu desaparecimento. mas sempre que preciso de um exemplo de tolerância e conhecimento. é ele que me vem à memória. que privilégio foi herdar este legado invisível. mas ainda hoje tão presente – por último os meus pais. tenho tantas saudades deles. mas tenho a certeza de que o pai antónio lopes e a mãe carolina lopes. onde quer que estejam. estão orgulhosos do seu legado. de nós todos – eu também estou muito orgulhoso da nossa família. principalmente desta que construí com tanto amor e sacrifício. confesso que não foi fácil. mas só foi possível graças aos filhos. noras e netos. verdadeiramente únicos e que fazem da nossa história uma epopeia – é a única obra de que me orgulho. sempre que os vejo. reluzem como as estrelas na noite. como diamantes polidos pelo tempo. sei que são as minhas sementes. e também sei que irão dar vida a outras sementes. e assim todos nos perpetuamos no infinito do tempo – 2024 permitiu que o meu filho luís. o primogênito. realizasse mais um bonito sonho. bem sei que é fruto do seu talento e esforço. e também da parceria com a sua esposa. minha nora andreia. que é uma filha para nós. gostamos imenso dela. trata-nos com muito carinho. se pudesse escrever como isso nos deixa felizes e tranquilos. mas não tenho essa arte. o nosso filho não poderia ter encontrado melhor companheira – o meu filho do meio. pedro. está de vento em popa com o seu negócio. ele também é especial. um trabalhador incansável. lembro-me de dizer à mãe: no estudo pode não ser um aluno de vinte. mas vai ultrapassar o vinte pela sua capacidade de trabalho. só não se deve lamentar. mas antes agradecer a vida que conquistou – é apenas um pouco nervoso. juro que não sei a quem sai. ou talvez saiba. por isso espero que o novo ano lhe traga mais tranquilidade. a vida não pode ser apenas uma correria desenfreada. onde obrigamos aqueles de quem gostamos a correr a nosso lado. às veze é preciso parar. respirar. que é o mesmo que dizer refletir. e aprender a caminhar juntos. ao mesmo ritmo com que amamos. e perceber que quando vamos juntos podemos não ir tão depressa. mas vamos com toda a certeza mais longe – mas na nossa família a gratidão é permanente. e. finalmente. o meu filho encontrou um ombro onde pode descansar. a sua companheira. isabel. para nós bela. que para além de ser divertida. trouxe a nossa casa algo que nos faltava: diversão. alegria nas coisas fáceis. leveza. olhos a sorrir. e uma paciência enorme de fazer do seu marido um homem mais tolerante e calmo – estamos muito gratos por ter escolhido a nossa família – o meu filho. joão. o mais novo. depois de muitos anos de dedicação e esforço ao estudo. doutorou-se neste belíssimo ano. nós pais realizamos mais um desejo. e quanto orgulho. eu e a mãe estamos felicíssimos. e com casamento marcado para setembro. tenho a certeza de que 2025 será o ano de um novo recomeço para ele. a minha futura nora. sofia. nora. já posso chamar nora. é agora parte da nossa família. é nela que confiamos para fazer do nosso filho um homem feliz – a nossa nora é determinada. desenhou o seu percurso profissional a régua e esquadro. mas também com muito sacrifício. e tem demonstrado uma força admirável para alcançar todos os seus objetivos: querer ser todos os dias um pouco melhor – adoramos essa ambição – a excelência é uma roda que nunca para de girar. nessa rotação. há momentos que nos esmaga contra o solo. mas o importante é aproveitar o restante da roda para completar a circunferência junto das pessoas que gostam de nós – estamos todos impacientes por essa boda. que será um marco inesquecível para as duas famílias – esperamos que seja para sempre. na nossa família todas as uniões têm sido para sempre. mesmo sabendo que. a partir desse dia. ficaremos novamente sozinhos. ao fim de 40 anos. seremos novamente dois numa casa – mas. para o fim. está reservada a melhor notícia: vou ser avô mais uma vez. e logo de uma carolina. nome da minha mãe. pedro e bela. quando essa princesa nascer. a vossa vida vai mudar para sempre. mas saibam que essa mudança será repleta de sentido e alegria. se souberem acompanhá-la de perto com resiliência. muito amor e também muitos sacrifícios. quando chegarem à minha idade irão perceber que nada no passado mudariam. vê-la feliz será o vosso maior desafio. e também o vosso maior legado: a única obra que nunca acabará enquanto forem vivos – e agora a lurdes. que com 85 anos continua a ter uma memória de jovem. só as pernas é que a traíram. mas ela mesmo diz: é a vontade de deus. ele lá sabe o que faz. e está em todo o lado – 2025 será um ano muito bom para ela – a lourdes não teve filhos para levar ao altar. mas terá o privilégio de ser a madrinha do meu filho. e irá levá-lo até o cimo da igreja. quanta honra para ela. mas também para nós – a lourdes é da nossa família e do nosso sangue. todos a amamos profundamente. e ela sabe o quanto é essencial para nós – a lourdes foi sempre uma luz de proteção para a minha família. sempre se deu muito bem com o seu deus. são unha e carne. mas para mim. foi muito mais de que uma luz protetora e divina. foi a minha segunda mãe. nunca me desamparou quando o mundo desabava à minha volta. e hoje é a “vó” dos meus netos – para nós. o que espero de 2025 é o mesmo que pedi em 2024. muita saúde para todos. e se puder ser. se não for pedir muito. um pouquinho mais de sorte e tranquilidade. nós precisamos. começamos a estar um pouco cansados – por último. não posso esquecer os amigos. são também eles que nos dão colorido à vida. e para eles. o mesmo desejo. saúde e dinheiro até não aguentarem mais –  muito já foi dito. mas vale a pena reforçar por ordem de chegada. e para que fique registado para a eternidade. aqui ficam os seus nomes: o meu amigo paulo. estou-lhe imensamente grato. aturar-me durante quarenta anos não é para qualquer um. mas é uma honra ser seu amigo – miguel e cristina. a velhice é um posto. já lá vão mais de doze anos. a amizade é feita de tempo e partilha. serão sempre especiais – luís e mariana. o meu amigo é especial. mostrou-me outro lado da vida e de mim. e como se costuma dizer. o saber não ocupa espaço. a mariana acabou de chegar ao pé dos “cotas”. mas traz com ela uma luz de mudança. acredito que irá acrescentar positividade a todos os que partilham a sua amizade – manu e mónica. passamos até aqui bons momentos. divertimo-nos imenso. mas também falamos de coisas sérias. a nossa amizade irá continuar. tenho a certeza. todos em nossa casa gostam de vocês. só espero que o telemóvel e as mensagens não avariem tantas vezes. talvez o melhor seja mudar de operadora. publicidade à parte. mudei para a vodafone – joão e carol. talvez a amizade mais improvável. mas os astros alinharam-se. é por isso que gosto de viver. como sabem sou surpreendido várias vezes. mas adiante. vou usar as tuas palavras: vocês são confiáveis. e como uma amizade para durar precisa de confiança. foi muito bom aparecerem e conhecerem a nossa família – todos me acrescentaram alguma coisa. todos me fizeram bem. e com todos aprendi. serão mais uma luz em 2025. estou muito grato. principalmente por me aceitarem como sou. valorizarem o que tenho de melhor. e esquecerem o que há de pior. fica a promessa de continuarmos juntos o caminho em falta – este ano. vou juntar à lista mais dois amigos: pedro e inês. foi também muito bom terem aparecido na nossa vida. logo que seja oportuno. conhecerão a minha família. tenho a certeza de que irão adorar. quero o melhor para vocês. e que a vossa alegria transborde para quem partilha o vosso afeto. e. quando tiverem excesso de alegria. chamem por nós – e agora. a outra parte de mim: a minha irmã e o meu irmão. para eles e suas famílias. só posso pedir que tenham muita saúde. vocês são muito importantes para mim. para nós – são a única extensão que nos liga aos nossos pais. e como temos muito orgulho neles. fizeram a estrada. nós apenas caminhamos nela – este ano. também fica a recordação dos cem anos da mamã. se fosse viva. e. saber que. por iniciativa da minha irmã. teremos para sempre um dia por ano para juntar toda a família. é algo que me enche de orgulho – não podemos perder a essência dos nossos pais: família e bondade – aos meus amigos da praça. este ano. juntamos mais dois à mesa. e como é bom perceber que também eles envelheceram. e estão muito mais bonitos. talvez apenas menos elegantes. ao vosso lado regresso à adolescência. e volto a ser muito feliz – tiago. arménio. lúcio. pimenta. fontes. espero que o novo ano vos traga muita saúde. na nossa idade de que precisamos mais. e também que triplique os nossos encontros – para terminar. mas de forma propositalmente especial. quero falar sobre a minha companheira. para ti. amor. só posso pedir que continues a meu lado. com muita saúde. pois. se tiveres saúde. eu também tenho. nós estamos ligados um ao outro para sempre – mas também desejo que sejas mais feliz. que te sintas mais reconhecida pelos filhos. noras e netos. e pelos amigos mais próximos. tu és a razão pelo qual este nosso castelo existe. só eu sei o quanto foste importante para tornar os nossos filhos homens de bem. mas também mais doces. és incrivelmente boa pessoa. boa mãe. esposa. filha. tu és o sol que alimenta de amor e esperança a nossa família. e o único porto seguro para os dias tempestuosos – a teu lado. sou. e sempre serei um homem realizado. não tens culpa de eu querer chegar a 2026 sem passar por 2025. é a minha forma de viver. sempre foi – a meta para este ano será sempre o lugar onde nascemos: a família. os amigos. e aqueles que nos aceitam como somos – mas também é preciso lembrar quem nos deixou em 2024: infelizmente. perdi um amigo. sei que temos todos de partir. é a dita lei da vida. mas a saudade e as memórias permanecerão connosco. de alguma forma. é bom saber que ficou entre nós a sua companheira. que nos fará recordar todos os bons momentos de amizade que construímos – feliz ano 2025

 

 

23/12/2024

23 de dezembro de 2024





hoje é um dia muito especial. celebramos não só o aniversário da maria joão. que é a mãe dos meus filhos. mas também a vida que construímos juntos – uma vida cheia de amor. persistência. e tantas memórias preciosas – lembro-me como se fosse ontem. era carnaval. estávamos em um baile de garagem. foi lá que a pedi em namoro – passaram-se mais de 40 anos desde aquele "sim" e no dia 21 de julho de 1984 juntamo-nos para sempre – hoje. ao olharmos um para o outro. percebemos que envelhecemos por fora. mas por dentro. porém. o amor. permanece inalterável. mesmo com as injustiças que a vida nos impôs. subimos e descemos montanhas. enfrentamos dias em que o medo nos tirava o sono e a paz. mas nunca nos afastamos. continuamos a cumprir os votos que juramos um ao outro: na saúde e na doença. na alegria e na tristeza. na riqueza e na pobreza. e assim caminhamos. a subir e a descer imensas montanhas. mas mesmo nas mais íngremes. encontramos força um no outro para continuar – foi essa força que nos trouxe até aqui. mesmo com jornadas de muita dor. e com medo que o dia seguinte fosse ainda pior – nestes quarenta anos. esteve sempre a meu lado. nunca se queixou. guardou muitas vezes o medo para não me amedrontar mais. ergueu-me quando estava mais abatido. e curou-me com amor quando o coração estava mergulhado em fel – quando conheci a maria joão acreditei que estava perante uma mulher frágil. mas como me enganei. esta mulher que cresceu ao meu lado tornou-se forte. valente. corajosa. e hoje sei. que sem o seu amor e companheirismo nunca teria sobrevivido a tantos descontentamentos. sempre que a casa abanava. tal como sansão. abria as mãos e segurava o nosso castelo. era ali que os sonhos dos nossos filhos cresciam – hoje é um dia que é só dela. a matriarca está celebrada e é digna de todas as honras. e não podia deixar de lhe dizer que a amo. às vezes. falta-me uma palavra à altura desse sentimento. capaz de dar distância. talvez dizer-lhe que a amo daqui até vénus. que é a deusa do amor. e de vénus até aqui. onde eu a guardo – de lhe dar tonelagem. talvez dizer-lhe que o meu amor é de tal modo enorme que pesa mais do que cem toneladas. sem contar com os beijos e abraços – também um pouco de magia. talvez dizer-lhe que sem ela a minha vida seria marte. inóspita. deserta e cinzenta. sem pássaros. sem flores. sem rios a correr para o mar. sem primaveras. sem sol. sem amendoeiras em flor. e girassóis a procurar-me todas as manhãs – construímos juntos um castelo mágico. nele guardamos o mais importante da vida: a família. os filhos. o amor. e o sonho de morrermos nos braços um do outro – com a nossa união demos vida a três rapazes fantásticos. bons. que amam como nós a verdade. o respeito. a lealdade. a bondade. o trabalho. a justiça. e a família – o que há mais importante do que a família? nada – a casa multiplicou-se. chegaram três noras. que adoramos. são agora também do nosso sangue. dois netos e meio. um casal que amamos. talvez porque fizeram de nós pais pela segunda vez. e uma carolina que chegará para maio. mês de maria. e que alegria nos vai trazer. lembrar-nos-á para sempre a avó carolina. que nos ensinou tudo sobre o valor da família – a maria joão é uma companheira fantástica. uma mãe exemplar. nós sabemos bem o preço que pagámos para que os nossos filhos conquistassem a sua liberdade. foi também uma nora especial. os meus pais adoravam-na. preferiram-na sempre em detrimento dos filhos. acompanhou-os na doença até ao último dia. sem nunca lhes negar um carinho e um sorriso – nada do que somos hoje teria acontecido se não estivesse a nosso lado. sempre. noite e dia. com uma coragem imensa. e uma bondade que nos dá o sentido certo para a vida – vivemos os últimos 15 anos inseparáveis. cada viagem. cada momento no sofá. cada noite em que mexes nos meus pés. partilhamos todos os risos e choras. fundimo-nos um no outro. e o que sei mesmo. é que viveremos juntos até o último dia. porque tudo que és. tudo o que sou. tudo o que somos. é a maior dádiva que podemos celebrar – que o universo ilumine com estrelas o caminho que nos falta percorrer. até ao fim dos nossos dias  

 

quando o inverno chegar

se me encontrares frio

aconchega-me

sussurra ao ouvido

o amor que guardas em ti

mas. se nevar

se os pássaros de ruy belo

gelarem nas árvores

se as gaivotas uivarem

se os corvos sorrirem

faz um boneco de neve

que tenha o meu tamanho

com um coração enorme

que não pare de bater

e. senta-te junto a ele

conta-lhe a nossa história

diz-lhe como te amei

e como o amor nos sustenta

nesta separação gelada

e quando o sol brilhar

tu… vais existir

e eu…

na luz que guarda a saudade

dir-te-ei:

vivo em ti para sempre



20/12/2024

eu. e o natal de 1969

 





vou contar algo que aconteceu comigo em um natal já distante: estávamos no ano de 1969. eu ainda era uma criança. e não me passaria nunca pela cabeça que este viria a ser o natal de todos os natais – apesar de várias tradições existentes no minho. o pai natal na minha casa só rompia pela chaminé à meia-noite – começava-se a fazer os preparativos para a sua chegada por volta das 23.30. dando início à recolha de um sapato por cada elemento da família. todos tinham direito a um presente – depois. eram colocados na cozinha. espalhados por tudo quanto era sítio – isto porque estávamos habituados a ter em nossa casa muitos familiares. além de alguns amigos. vinham consoar connosco – todos eles sabiam que o meu pai fazia deste dia um momento especial. uma verdadeira celebração de boas práticas cristãs – sendo assim. mais nada restava senão esperar pelas doze badaladas para dar início ao verdadeiro natal – este começava apenas após o papai noel despejar as prendas nos sapatinhos – naquela idade. esperar pelas doze badaladas era um verdadeiro suplício. o tempo parecia não andar. e a ansiedade crescia inversamente à tranquilidade – a alegria. essa. reinava em toda a família – a meia-noite avançava no seu vagar. para os adultos. parecia que nada de especial se passava. mas para mim era tortura – creio que só a inocência das crianças é capaz de não perceber que o papai noel não existe – afinal. quem conseguia manter a serenidade sabendo que estaria para breve a entrada em nossa casa de uma tão ilustre personalidade? eu não conseguia – apesar da angústia. o tempo caminhava devagar. e os minutos pareciam passar ainda mais devagar. muito devagar. mas o tempo seguia seu curso e a meia-noite estava prestes a chegar – era o momento em que me parecia que estávamos todos no mesmo pé de igualdade. eu e os adultos fazíamos um enorme reboliço. o barulho não parava de aumentar. todos gesticulavam e gritavam uns com os outros – para mim. a maior parte das coisas era impercetível. gestos e códigos que só os crescidos pareciam entender. mas era evidente que tudo tinha a ver com a chegada do pai natal. e com a distribuição das prendas – de repente. ouve-se uma voz na sala: está a chegar o pai natal – ó meu deus. todo eu era alegria. incapaz de caber no meu mundo ainda tão pequeno. mas bem lá no fundo. trazia comigo um medo infantil. incapaz de ser anunciado – o silêncio era agora total. apenas ouvia o meu coração eufórico e as pernas a varejar— apagavam-se as luzes da sala. apenas a iluminação do pinheiro continuava a piscar. fazendo sobressair na sua base a sagrada família – era ali que residia a força daquele dia. era nessa fé de que um dia um menino nasceu para salvar o mundo do pecado que. aos meus olhos. não restavam dúvidas era mesmo o redentor – a minha família era tão perfeita. tão genuinamente bondosa. o meu pai não parava de distribuir atenção e cuidados a todos os presentes. não podia faltar nada em cima da mesa – o bom vinho. escolhido religiosamente para este dia especial. era o ponto culminante das preocupações de um bom chefe de família – aos meus olhos. via apenas um homem feliz. com o sentimento de que tinha cumprido com as suas responsabilidades familiares e estava agora a ser recompensado. com alegria e fartura transbordando na mesa – até a minha mãe. sempre muito mais receosa do futuro. espelhava naquele dia a felicidade estampada no seu rosto – de dentro dos seus gestos brotava aquela ternura que só os filhos sabem alcançar pelo olhar. a sensatez. a ponderação e lucidez davam lugar a um olhar de esperança e felicidade – meu irmão. mais velho dez anos. faz então um número de teatro e diz: tchchhh. e a algazarra calou-se. suavam as pancadas na porta da cozinha. violentas. para que não houvesse dúvidas de que o pai natal tinha descido pela chaminé – a meu lado. a minha irmã. para quem o natal já não tem segredos. mais velha do que o meu irmão dois anos. estava habituada as festividades natalícias dos meus pais. segurava-me o olhar. sabia que era no meu contentamento que o natal podia ter mais brilho – mais ao lado. a alegria daquela que todos os dias substituía a minha mãe nos afazeres de educar: a 'ua'. como várias gerações têm vindo a chamar carinhosamente. um diminutivo de lourdes. minha protetora até hoje. também ela estava rendida à minha felicidade. os seus olhos não se desprendiam da minha jubilação. todos queriam ver-me feliz. era o alvo das atenções – apesar daquela mistura de sentimentos. em cada pancada da porta vinha a esperança de que fosse a última. mas pareciam eternas. sempre aparecia mais uma. uma tortura para um catraio – finalmente. o fim das míticas doze pancadas – saía então disparado para a cozinha. na esperança de que o meu sapato estivesse repleto de prendinhas – os olhos rebentavam de alegria. era a cozinha mais bonita do mundo. as prendas subiam em pirâmides intermináveis. o chão estava completamente coberto de embrulhos. e a algazarra à minha volta era infernal – a minha montanha de embrulhos obrigava a várias viagens de ida e volta para os levar até o meu local de deleite – minha mãe era o pai natal lá de casa. eram dela as economias que juntava durante o ano — então. apesar de muitos embrulhos. quase todos eram roupas que. mais cedo ou mais tarde. eu iria precisar para o meu dia a dia – obviamente. truques impostos pelos orçamentos controlados. neste pacote de prendas não podiam faltar as meias e as camisolas interiores. porque na época nenhuma mãe mandava o filho para a escola sem estar bem agasalhado – mas. no meio de todos esses embrulhos. lá vinha sempre um ou dois brinquedos. não eram os que eu tinha pedido na carta ao pai natal; esses eram muito caros. próprios de famílias endinheiradas. de dinheiro fácil. mas vinham uns parecidos que. no entanto. eram de uma terceira categoria. suponho que minha mãe os comprava numa 'lojeca' onde. depois de marralhar durante dez minutos. conseguia um desconto substancial – brinquedos são sempre brinquedos para uma criança. e a partir daquele momento eu já não existia para o natal familiar. refugiava-me no quarto para descobrir e desmontar aqueles que seriam os únicos brinquedos que eu teria nos próximos doze meses – estava eu entretido com a imaginação. quando irrompem pelo meu quarto dizendo que o pai natal ia voltar. tinha-se esquecido de deixar um embrulho – estive para morrer. o pai natal de volta? era sorte demais para uma criança como eu – logo que me disseram que era uma nova visita. desatei numa correria estonteante – voltou-se a repetir todo o cenário anterior para a chegada do pai natal. fiquei novamente a ouvir as pancadas de molière. ainda mais nervoso do que da primeira vez – um embrulho enorme estava no meu sapato. creio até que era o único em toda a cozinha. rasguei o papel e não quis acreditar no que os meus olhos viam – numa caixa com mil e uma cores. e um avião impresso no cartão maravilhoso. que mesmo sem sair da caixa já me fazia voar pela estratosfera – o avião era fantástico. de pilhas e em chapa pintada. naquela altura não havia preocupações com brinquedos de chapa. magoava. curava com as respetivas janelas e portas. os reatores nas asas terminavam com. a sobressair uma luz vermelha e verde. que acendiam à vez. e a cauda pintada com o símbolo da tap – tudo era perfeito. ligado. fazia um zumbido que me deixava na dúvida se ia levantar voo. enquanto as luzes não paravam de acender e apagar – no terraço de minha casa. o aeroplano não parava de subir na minha imaginação. minha mãe gritava a toda a hora para que eu saísse do frio. mas o boeing não parava de piscar aquelas luzes de sonho – o avião e os sonhos caminhavam majestosamente por aquele terraço. que para mim era uma pista de aviação que me ligava ao resto do mundo – aquele avião. que nunca levantou do chão. fez-me ter o natal mais extraordinário que uma criança pode desejar. daquele terraço. parti para todo o mundo. feliz e agradecido a um pai natal que. apesar de não o ter visto. era o mais incrível do meu universo de criança com sonhos – naquela noite. dormi com os anjos. pela primeira vez tinha tido um brinquedo de 1ª categoria – tudo isto. agradeço a um amigo do meu pai que resolveu festejar o natal em nossa casa. como chegou atrasado. por culpa do pai natal de sua casa. chegou depois da meia-noite. daí termos de repetir o número do pai natal a descer a chaminé – hoje. ainda gosto do meu pai natal – as crianças. naquele tempo. eram enganadas com alegria. os pais eram felizes ao criar nas crianças a capacidade de ter fé. esperança e uma vontade enorme de sonhar – infelizmente. as crianças hoje quase nascem sabendo que o pai natal não existe. alguém se lembrou de que as crianças precisam de um pai natal. mesmo que a descoberta da realidade traga alguma tristeza – tenho a certeza de que as recordações daquelas noites mágicas acabam por compensar a descoberta da realidade – pobre sociedade. que retira a inocência da vida das crianças. tirando-lhes a possibilidade de criar as suas próprias fantasias – mas. por muito que a sociedade tente dizer que o pai natal não existe. eu só sei dizer que isso é uma grande mentira – para mim. o homem vestido de vermelho. de barba branca. barrigudo e amigo das crianças existe e existirá sempre – sei até que um dia me trouxe um avião maravilhoso. e sou até capaz de jurar que vi o seu trenó com as renas paradas no meu terraço. e eram lindas. majestosas



10/12/2024

viagem - música








é com grande alegria que compartilho algo muito especial com os meus amigos – pela primeira vez. um poema de minha autoria ganhou vida em forma de música – agradeço profundamente a um amigo por esta alegria inesperada – espero que este seja apenas o primeiro de muitos poemas que encontrarão melodia 


 


 

02/12/2024

viagem

 


 



sou o que vejo

não em mim

mas nos outros

 

e o que os outros

veem em mim?

talvez o que não sou

ou então

mais do que sou por gratidão

ou por esta subtileza:

caminhar

para onde estou virado

  

mas o que sei

por ainda me tolerar

é que sou o que não se vê

invisível de mim mesmo

refém do tempo

prisioneiro das memórias

 

mas que interesse há em ser visto?

se sou o que vejo nos outros

e o que sinto?

quem vê?

apenas eu

por ser deste mundo

e suportar a certeza do ser…

por isso. lamento o vazio

do qual tento escapar

será que todos estamos errados?

ou só eu?

somos o que vemos

ou o que nasce deste ir e vir?

  

certezas?

só que a noite falece com o dia

e o dia foge da noite

e o tempo

preso na ampulheta

respira cada grão

de areia

carrega o nada

o que fomos

o que nunca seremos


e o que restará de mim

com o último grão

quando tudo acabar?

  

por isso prefiro acreditar

que todos são como eu

e eu como todos

e o que sinto é só meu?

ou talvez

a lucidez de um desatino?

 

talvez seja só meu

neste mundo de todos

sem compreender

que colorimos a vida

com nossas cores

 

se todos vissem o que eu sinto

que interesse teria?

se dentro de mim

pouca coisa faz sentido

e tudo o que sinto

é apenas dor

que se esconde no que sou

 

sou o que vejo

não em mim

e nos outros

sou o que não sou

 

com sapatos ou descalço

procuro o que sempre procurei

um outro que ande como eu

e que me diga se é desumano

ser o que vejo

 

e o que fazer

para deixar de ser o que vejo?

ser apenas eu

como nos dias

em que quero ser

e também não ser

o que vejo

e o que ninguém vê

 

sou o que ninguém vê

somos todos

todos

talvez ninguém




27/11/2024

fim da estrada

 





sei que o mais certo é falecer sem que os olhos cheguem a ver o que a juventude prometeu – mas que posso fazer? nada – resisto na terra das vontades. caminho. aproveito o que sou. e talvez por ser pouco. sou grato. e por cada dia que me é oferecido. sei que deixo outro para trás. isto é: sou a cada despertar o que fiz de mim no dia anterior – ao deixar outro para trás. carrego nos ombros não apenas o que fui. mas a ressonância das escolhas que me modelam – sou a soma dos dias. uma obra inacabada que se reescreve a cada amanhecer – agora. com a vista cansada. e a distância com medição. o que sei a cada amanhecer é que o meu passado nunca se apagará. terei que aprender a viver com as suas maldades. com as interrogações que me deixou. e com os sonhos que me roubou – quando chega a noite. e as incertezas se fazem travesseiro. e o desespero pede fuga. abrigo-me em mim. encutinho-me até desaparecer. e peço ao universo proteção – e assim. translado o corpo para o mundo da esperança. onde as memórias não alcançam. e o peso da dor se dissolve na promessa de dias melhores. mesmo nas noites intermináveis – e vou. chego como fantasma. invisível até de mim. bato à porta. e perguntam-me quem é. e respondo. sou eu. o moço que resiste no mundo das vontades. preciso de abrigo. agasalho e proteção – entro por mim adentro. e sento-me em cima da verdade. enquanto a outra parte de mim. sem medo. enorme. confiante. sem precisar de correr. livre. mesmo não sendo gaivota. tranquilo. em paz. mesmo estando preso no corpo onde um dia morreremos. aponta-me para a janela do mundo.  que não é mais de que um buraco com luz. que me suga para o cosmos das comparações. renovando-me a esperança e mostrando que. mesmo na vastidão do desconhecido. há um sentido pulsando em cada átomo. convidando-me a ser mais do que um mero espectador da luz. mas parte dela – e ali fico à procura de um propósito para ser apenas o que sou. encontrando-me. partilhando o momento com a outra parte de mim. e comtemplando o que me parece ser a felicidade. e sem a alcançar. transformo-me numa história bem-aventurada. onde tudo o que necessitava. já não me faz falta – descanso a procurar-me. a descobrir-me. a perguntar-me. porque não me escondo em mim para sempre nesta paz bem-aventurada? não me posso partir a meio. desmembrar-me. separar-me do que não gosto para ficar com o que gosto. sou o que me construí. pelo sucesso. pela dor. pela solidão. pela multidão. e a janela que deveria libertar-me. tornou-se o cárcere onde os dias se arrastam iguais – talvez culpa minha. talvez pela falta de coragem para saltar para fora do que temia. talvez por não merecer. talvez o destino que me calhou – de manhã. quando acordo e sou o que sou. e o caminho se faz de interrogações e medo. lembro-me da outra parte de mim. e atiro para trás o que sou. mesmo que atrás de mim já não exista nada para trazer para a jornada. e lembro-me que é neste mundo que tive a sorte de me carregar pelo tempo. numa medição medonha que os humanos inventaram para podermos envelhecer. e apesar de todas as rotações que já dei em volta do sol. que em calções demorava uma eternidade. e agora. tudo desaparece sem dar conta. quero muito acreditar que por alguma razão sou o que sou. tem que haver algum desígnio oculto na minha caminhada – sei que estou quase a desocupar-me da matéria. espero que outro ocupe o meu lugar no mundo. se possível na minha rua. mas que seja diferente de mim. com menos interrogações. e mais tempo para aprender. com menos medo do que não sabia. com mais vontade de correr. que seja mais escritor. também não é difícil. que escolha melhor as palavras. que saiba olhar mais para a frente e menos para trás – sei que existo nas pequenas alegrias com que fui abençoado. e também sei que a esperança só findará quando deixar de acreditar que nada foi em vão – e no dia que fizer de mim um fantasma. que aconteça sem dor. que o fim da estrada não se lembre do meu nome. que adormeça calmamente. sem saudade. sem nada do que fui. porque um homem sem nada. é um homem livre – e no final. quando o silêncio me envolver. não serei mais o prisioneiro das janelas nem o errante das noites. serei gaivota: não uma fuga. mas o voo que reconcilia céu. mar e terra. e em paz abraçar tudo o que deixei para trás. e ainda assim acreditar que o universo possa me reencarnar



08/10/2024

duas certezas

 



 

o tempo flui

como os rios pelas margens

como as gaivotas pelo vento

como as estrelas pela noite

com duas certezas

o erro

e o sucesso

e podes ser feliz pelo erro

e infeliz com o sucesso

o erro vive mais tempo

o sucesso falece rapidamente

o erro mantém-te vivo

o sucesso amaluca-te

e a vida

essa coisa que se gasta

é viagem

às vezes dever

às vezes nada

às vezes amor

às vezes pronúncio de morte

coisa de sibila

senhora das profecias

e bruxarias

todos estamos a prazo

não do erro

não do sucesso

mas do tempo

todos temos saberes ignorados

mas se soubermos procurar

no tempo certo

o relógio acerta-te

deixa a tua pegada nos outros

esquece as desilusões

vive a vida

esquece a morte

vai

procura o que não sabes

e se nada encontrares

se nada aprenderes

e tudo te parecer um equívoco

e o sucesso uma miragem

fica contigo

aceita-te

e não te esqueças

que também se morre de vergonha

 

 


29/09/2024

livre-arbítrio ou determinismo

 




diz-se que todo o homem. bravo ou amedrontado. percorre a estrada que a fortuna lhes traçou – é assim. nada mais do que assim. somos o que somos. nascemos para ser o que somos. o livre-arbítrio ou liberdade de escolha. é apenas um truque para nos culpar. ou desculpar de um qualquer erro. e para os crentes. absolver deus da sua criação – para santo agostinho o livre-arbítrio é a própria vontade. e apenas a possibilidade de escolher entre o bem e o mal – todos os dias fazemos as nossas escolhas. às vezes bem. outras. carregamos as costas com arrependimentos. que por serem isso mesmo. arrependimentos. já não tem remédio – na filosofia o determinismo opõe-se ao livre-arbítrio. defende que são os nossos atos que determinam as escolhas que fazemos – para o determinismo o homem é o único responsável pela estrada que constrói – eu tenho a minha estrada. feita apenas por mim. e agora sei que para trás já não posso voltar. também já não encontraria nada com valor. prefiro o caminho que faço hoje para chegar ao dia seguinte – vou tentar encontrar-me com a minha natureza. perdoar-me e perdoar. amar os amigos que trouxe até aqui. e enroscar-me nos abraços dos meus filhos. é deles que ouço a mais bela de todas as palavras: pai – e quando as estrelas se acenderem no céu. deito-me no colo da minha companheira. e peço a deus. ou ao universo. que me leve sem temor. que chore ela. mas que eu não ouça. que os tímpanos rompam e os olhos ceguem – é a sua paz. bondade e tranquilidade que quero levar para a viagem. senão a minha estrada ficaria sem sentido – muitas das minhas pedras-caminho foram colocadas por si. com coragem. com sacrifício. com dor. com paixão. mas principalmente com uma vontade enorme de me amparar – caminhamos lado a lado quarenta anos. parece muito. mas não. preciso de mais quarenta. e então sim. posso morrer nos seus braços e ela nos meus – o amor só faz sentido quando tem um sentido – nós fizemo-lo ter quando construímos a nossa família. agora maior com a chegada das noras e dos netos. e outros que um dia chegarão – a família é o centro de todos os estímulos – a minha companheira tem tudo o que falta em mim. completa-me – juntos fundimo-nos em compromisso. respeito. verdade. lealdade.  e companheirismo – e nas amarguras da nossa estrada. feita por nós. abraçamo-nos. chorámos juntos. e adormecemos um no outro – e ao nascer do dia nasce também uma nova esperança. renovada em fé. a dizer-nos: levantai-vos e caminhai – e assim fizemos. caminhamos. e assim faremos até que o caminho finde. e os corpos se desfaçam em pó

 

P.S. “filosoficamente o livre-arbítrio opõe-se ao determinismo. defende que são os nossos atos que determinam os acontecimentos de hoje. o homem é o único responsável pelos seus feitos – mas recentemente os deterministas ganharam um reforço de peso. o dos neurocientistas – experiências recentes realizadas por cientistas mostraram a existência de atividade cerebral antes que a pessoa tivesse consciência do que iria fazer – o livre-arbítrio não é mais do que uma ilusão”



17/09/2024

dia perfeito






 



hoje seria o dia perfeito para me encontrar com a minha mãe. sinto a saudade amargurada – ouvi dizer que está calor. e que os entendidos aconselham a beber muitos líquidos. mas eu não sinto nada. nem calor. nem frio. talvez uma pequenina arritmia no coração. ou a falta de uma fala. ou uma cadeira de encosto virada para o mar – sempre precisei do mar por perto. o mar relaxa-me. sossega-me. desfadiga-me. e também gosto da forma zangado como abala do areal. para logo de seguida voltar pé ante pé – gosto das gaivotas. da sua ligação íntima com o oceano. e da forma como cortam o vento. parecem toureiras com asas. corajosas como ulisses. aliadas de bóreas. e livres de convenções. os dias pertencem-lhes por inteiro – gosto de enterrar os pés na areia para não ir a lado nenhum. ficar sozinho comigo. a escutar-me. e sempre que me escuto acrescento-me. encontro sempre alguma caixa perdida de bugigangas. é quando as gaivotas se precipitam na imaginação. tão doidas como eu. e começamos a contar grãos de areia. a separá-los. os arredondados para sul. e os que tem arestas para norte – é nesta loucura de contas duvidosas que me agarro à liberdade das gaivotas. e voo sem destino. livre de interrogações e dúvidas. e sorrio ao me ver. desigual por ser apenas eu na minha realidade – quando estou com a cabeça no ar é quando gosto de mim. e me interrogo: porque não posso sentir na terra o que sinto a voar? mais uma vez a resposta é não sei. talvez seja da gravidade. do peso do céu no cérebro. ou cresci demais. e já não me esgueiro das pessoas como antigamente. não posso. são reais. andam sempre com os pés acorrentados à terra. e sobrevivem sem interrogações – o que sei mesmo é que quando estou junto ao mar. com os pés enterrados no areal. para não poder fugir de mim. fico como se não existisse. e são as gaivotas que me ajudam a voltar à realidade que. inevitável. faz de mim menos humano. digo. sobrevivo a competir diariamente comigo e com as minhas interrogações – gostava de voltar à puerícia. quando partilhava o areal cheio de ilusões. e onde construí castelos e desejos maiores do que o empire state building – hoje era o dia perfeito para me encontrar com a minha mãe. sinto a saudade a segredar – se lhe encontrasse as mãos talvez o meu rosto pudesse sorrir ao me ver. ou sossegar por apenas ser – para uma mãe somos sempre superlativos. perfeitos. futuro. esperança – mas a esperança não existe quando o mundo que construí está incompleto. mas que posso eu fazer? nada. é na imperfeição que sou. é na imperfeição que deixo de ser. e entre me ver como sou. e o que não consigo ser. há um caminho que é somente meu. é a minha vida. e em cada lamento. em cada pedra pisada. a interrogação de muitos: porque raio foste por aí? não sei. talvez pelos ais que me tornaram mais piedoso. talvez para viver num corpo que não sorri ao se ver. talvez pelos sacrifícios. ou pelos desencantos. ou para sossegar por apenas ser – hoje era o dia perfeito para me encontrar com a minha mãe. sinto-a por perto – se lhe pudesse falar dizia-lhe que foi muito bom nascer nos seus braços. e que gostava de ter a sua capacidade de trabalho. do seu cuidado em unir a família. de a alimentar de perseverança e coragem. e de me chamar até ao último dia meu filho. foi quando cortamos o cordão umbilical – mas não posso minha mãe. não nasci com esses desígnios. restam-me as memórias. e as fotos que a fazem visitar no meu cosmos – nascer é muito complicado. crescer é um drama. e envelhecer um terror. mas é assim para todos. eu estou nesta leva. apenas com mais interrogações – e mesmo que fizesse um buraco até ao outro lado da terra. e me erguesse de mim para ser maior. eu seria o que sou. falava a língua de camões. em verso ou em prosa. de pé ou de rastos. a sorrir ou a lamentar-me. sou o que o destino fabricou – todo o meu passado foi ontem. e tudo foi tão rápido – hoje sei que sou apenas uma brisa que vai passar – agora. o meu futuro é falar com os fantasmas que me ocupam o corpo e a mente. entendermo-nos. acertar contas antigas. aceitá-los. e dar-lhes um quarto com uma janela para fora de mim – e quem sabe as gaivotas me pousem nas pontas dos dedos. e me ajudem a escrever outra vida. sorrir por apenas ser. aceitar-me por apenas ser. e viver como as gaivotas. livres. surfar o vento. toureá-lo. e um dia. lá para depois de amanhã. poder morrer como sempre desejei. em liberdade – como diz eduardo lourenço. mais importante que o destino. é a viagem – eu vou dentro de mim. só não sei para onde. mas algum lugar me há de albergar

 



30/06/2024

para ti









murmuro

ao ouvido é

confidência

mistério

se for dito a ciciar 

mas se encostar o lábio

e o ouvido tiritar

então…

é amor

 

nosso


 

09/05/2024

neste exato momento

 





“Neste exato momento – é assustador – se eu existo é porque estou horrorizado de existir. Eu sou aquele que me puxo do nada a que aspiro. Você acha que eu conto os dias? Resta apenas um dia, sempre recomeçando: nos é dado de madrugada e tirado de nós ao anoitecer” jean-paul satre – lutamos por mais um dia. e no escuro resistimos à decantação do cérebro. rodeamo-nos do que sobra. injetámo-nos com um ponto de luz minúsculo. giramos os olhos para dentro. acionamos o modo de contenção de danos. e por ali ficamos a fingir que dormimos. a suster a respiração. a cavar o que é nosso. a enterrar os dedos nos ossos. até que uma descarga de saudade nos faça voltar ao que amamos. que é dor também – tal como o solstício de inverno nos presenteia com a noite mais extensa do ano. também o escuro traz à alma o medo e a tristeza mais extensa em mim – é assim sempre que o dia se esvai. e eu… por ali ando. a escurecer aos bocadinhos. até que a noite se funda em mim – pela manhã. quando a luz desperta os olhos para o mundo das vontades. o corpo. essa coisa enorme que me carrega o medo. esperta para mais um dia também. apenas mais um dia – e o corpo vai. e leva o cérebro para recomeçar tudo o que foi interrompido. que é apenas ser. nada mais do que ser. não importa o quê. ser unicamente – e vai pela pressa. o caminho das vontades é que faz o destino – passo a passo vou sem querer ir a lado nenhum. como direi? vou meio hirto. meio curvado. a olhar para o que vem de encontro. mas fico sempre por saber. se o que vejo é o quero ver. ou se me é imposto pelo caminho – talvez sejam as duas coisas. afinal. eu sou mais um deste mundo. peregrino da minha própria crença. do meu próprio versículo: “não me peço para sair deste mundo. mas que me livre do mal que há em mim – sou do mundo. como eu do mundo sou – santifico-me com a minha verdade; a minha palavra é a minha verdade” – perdoem-me por tomar as palavras de são joão batista. mas tal como ele. eu também sou um peregrino deste mundo – vivo a minha própria crença. a que me releva. e também releva o que os outros me entregaram. que recebi como dádiva. então… eu só sou o que sou. porque os outros entraram em mim – eventualmente. sem perceber que também eles tinham a sua própria crença. que o senhor deles. e eu. revelamos por vontade – pertencemos todos a este mundo. e todos somos o que todos se fizeram. às vezes fizeram-se bons. às vezes maus. mas se somos todos de todos. então os maus estão perdoados. por serem também um pouco de todos. e deste modo. de mim também – e o que é mau em mim. é também dos outros. que posso fazer. se o mundo é assim. esta centrifugação louca que nos faz desunir. e nos faz existir tal e qual como somos. como todos somos – bem sei que às vezes demora a encontrarmo-nos. mas é o que é. o mundo tem o seu próprio tempo – e eu. neste mundo. não sendo nada. sou também o que me calhou em sorte. ou por vontade – é o mundo. o meu mundo. que começa em mim. e acaba para lá do que não vejo – no escuro. ou no caminho das vontades. sou o que posso ser e o que os outros me ofertaram do seu caminho – o que me alivia a pena. que é do tamanho de uma cesta de roupa. é que à noite posso morrer novamente como sou. tal e qual como sou. e com o que sonho ser – mas vou. levo comigo a invisibilidade. ninguém pode desdenhar do meu corpo. o que me restaria se perdesse o invólucro que sorri? como engaria o mundo? não é fácil viver. ou sobreviver. resistir. ou aparecer sem pungimento. e os noturnos de chopin a chorarem por mim. enquanto os olhos padecem de uma solidão cheia de gente – tomara que um dia me preguem dois pregos nas pálpebras. e assim possa fingir que vejo o que mais ninguém quer ver – esta espera é desespero. e o fio da navalha nos pulsos a matar as vozes. a engolir os atalhos. a tocar as cordas da incerteza. só pela noite sou o que sempre quis ser – para que preciso de mais um minuto se a hora de sonhar não chegar? para que quero ver as gaivotas a voar se a sua prisão é feita de mim? que raio de alma pede castigo e vento? que raio de alma pede para ser o que não sabe ser? que raio de alma obriga o corpo a caminhar aonde nunca vai chegar? não sei. lá terá as suas razões. talvez sejam as razões de todos. dos que me entram no corpo. ou do mundo com o seu tempo. ou talvez eu seja egoísta. egocêntrico. ególatra. sei lá que mais – alma malvada? às vezes. mas que lhe posso eu dizer para a melar – prepotente e tirana? também. mas que posso eu fazer para a aliviar das pedras que carrega – sem perdão? não. senão estava a condenar quem comigo caminha. já que sou de todos. e com todos caminho – mas mesmo que haja outro destino. e esta vida que consumo seja apenas purificação. ou aprendizagem. ou sei lá. qualquer coisa que ainda ninguém sabe. eu vou até onde chegar. mesmo teimando e doendo – o que sei. e é tão pouco. é que quero ser o que ainda não encontrei. sei que está algures por aí. sei… porque sinto falta. e só se sente falta quando o sono é leve e a alma aparece – mas se assim for. o que me espera? que vida viverei? apenas um dia nesse outro mundo? mais do que uma hora? mais do que um mês? estou sempre em cotejo. como se dentro do que sou houvesse dois lados: o lado morto onde sou feliz mesmo não sendo o que quer ser. e o lado vivo onde sou vontades sendo o que não quero ser – o lado morto resigna-se ao que tem e sonha. e o lado vivo procura o que não sabe se vai encontrar. e suporta as vontades sem quantificar o tamanho da dor – é o meu princípio de incerteza heisenberg – quando se conhece a grandeza da dor. perde-se completamente o sentido da vida – e vou por mim. como se não houvesse mais nada para onde ir. e com prazer ou terror. vou à descoberta. às vezes com espanto. às vezes apenas com a curiosidade de saber quem sou. e para cada descoberta. o padrão dos descobrimentos a marcar a minha presença naquele bocado meu – e depois de me descobrir. de colocar ordem na desordem. luz na ignorância. parto para o que me resta do mundo. do meu mundo. que é enorme. digo eu. que o imagino do tamanho de um continente. e levo a boa nova. que às vezes sou somente eu. diferente apenas por saber mais de mim – e a minha invisibilidade sempre tão perfeita. é agora. coisa perdida no achado – tenho medo dos homens. que são também um pouco de mim. mas não tenho medo do que descubro em mim. compreender-me é a minha última viagem pelo mundo das vontades – a palavra que me ocupa o corpo é: falta. falta. falta… falta saber ainda mais de mim. mas confesso que não tem sido fácil. talvez por ser enorme e cheio de cantos e recantos.  por isso me procuro. às vezes em mim. às vezes nos outros – mas se só sentimos falta do que já tivemos. expliquem-me os outros. que são quase todos sábios. porque é que sinto falta do que nunca tive? e porque quero ter o que não sei se existe? – talvez intuição. talvez pressentimento. magia. um dia destes deito as cartas. ou búzios. a resposta estará em algures – sou o que sou. nada mais. digo eu. por não ter conhecimento para dizer mais nada – o meu lado vivo resiste onde sou vontades e procura o que desconhece. mas no entanto. não inveja o lado morto. que não sente falta de nada. e é feliz com o que lhe oferece os sonhos – é este vai e vem de tristeza de um lado para o outro que mantém o morto a querer viver. e o vivo a querer morrer – amarra-me à vida uma única lei: a luz das minhas noites é a testemunha dos meus dias de escuridão – acreditamos que nascemos para ser felizes. e não é verdade. não é possível ser feliz. apenas é possível ter alguns momentos de felicidade. o nosso cérebro não foi trabalhado para nos tornar felizes. foi antes para nos manter vivos – anders hansen. psiquiatra sueco. diz que devíamos olhar para o mundo e para os problemas “através das lentes do cérebro” – diz-nos também que temos um “cérebro da idade da pedra” e que não está organizado para nos tornar felizes: “A principal função do cérebro não é fazer-nos felizes, mas nos manter vivos. A coisa mais importante que você pode aprender sobre o cérebro é que ele não mudou durante os últimos 10 mil anos” – começo a compreender o meu cérebro. afinal apenas me quer manter vivo. e está a conseguir – vou pelo caminho das vontades. às vezes de vagar. outras. a fugir de mim. para encontrar o que quero ser. tal como o burro vai atrás da cenoura – o ontem apenas existe porque somos capazes de usar o nosso cérebro. tudo o que pensamos torna-se automaticamente em passado. e o presente. é a caixa onde guardamos os raros momentos de felicidade. e que existe para tornar o futuro mais agradável. menos sofrível – este. só existe se formos capazes de nos libertar das pedras. mas se não formos suficientemente audaciosos. então o cérebro deixará de nos manter vivos. escolhemos o nada – é o cérebro que nos comanda. há uma alma dentro dele. que faz de nós o que somos. únicos e especiais. se não o formos para mais ninguém. é para ele que nos lidera. que nos ensina a não desistir – e naqueles dias em que o escuro é o fim do destino. o cérebro não desiste. mesmo que estejamos a respirar dor. ou sem amor próprio. ou sem… sei lá. um vazio. um buraco negro que nos suga para o nada. mas a nossa massa cinzenta. como dizia hercule poirot. sempre a lutar. às vezes a provocar. como se tivesse uma vara com um agulhão. e nos tangesse com dureza. como se dissesse: toca a andar para o futuro. o passado está na ponta da vara – e lá vai ele processando o que somos. porque o que não conseguimos ser. resiste na esperança. na resiliência. na capacidade de sonhar. de amar. e de nos perdoarmos por ser apenas o que somos – e o cérebro. essa máquina maquiavélica e ao mesmo tempo fascinante. lá continua a fazer futuro. de picareta na mão. a escavar cada neurónio. a fazer cada vez um buraco mais fundo. mais dentro do que somos. para que quando não aguentarmos mais… possamos nos esconder dentro dele – e mesmo que os corvos poisem no ombro. a nossa luta para procurar a felicidade será sempre o único caminho para chegar mais adiante. e viver. apenas viver o presente porque só este controla o tempo do cérebro – a felicidade não existe como um todo. existe a chuva. o vento. a terra. o fogo. e outras coisas que não sei explicar. mas a felicidade é apenas o truque que nos ilude para resistir ao caminho. e alcançado. logo a perdemos. porque queremos mais. queremos mais caminho. e assim voltamos à infelicidade. para voltar a procurar o que não sabemos se vamos encontrar – somos procura. somos exagero. mas também somos feitos de uma benquerença que nos faz acreditar. e muito. e que numa das extremidades do arco-íris. há um trilho que nos leva a ver como realmente somos. e principalmente. que papel desempenhamos nesta passagem terrena – e a chave mestra até então pendurada num erro trágico. agora… pendurada numa exatidão atómica. que no vagar interstelar. nos abrirá o cérebro até à fusão dos átomos. que eu quero acreditar. que foi na barriga da minha mãe – e assim. finalmente. nos mostrará definitivamente a razão de termos nascido. crescido. de termos aprendido a sonhar. a amar. a compreender o valor da simplicidade e do belo. de termos resistido. suportado as pedras. o medo e a invisibilidade – e a resposta. creio eu. será a família. a que me fez nascer. e a que fiz a partir de mim – eles são a razão porquê resisti quando tudo dentro de mim se desmoronava. quando o belo não passava de uma careta. e o corpo. o meu único corpo. desfeito de sentido – a felicidade não se guarda. se a tentarmos guardar implodimos. por isso a atiramos ao ar como fogo de artifício. e adoramos vê-la explodir nos olhos de quem por nós passou. às vezes vaidade. às vezes apenas vontade de dizer: hoje sou feliz. sou eu o feliz contemplado. e tu. que és também um pouco de mim. resigna-te. já tiveste a tua poção mágica. bebe a minha. junta-te a mim. pois não é alma de bem quem não se alegra com este meu raro contentamento. e que também é teu – e por cada estoiro no ar a certeza de que amanhã haverá mais um dia. e o que me faz feliz hoje. fará amanhã a um outro – a felicidade é para entregar a quem precisa. não podemos guardá-la. ou escondê-la. seria uma ironia iconoclasta se o tentássemos. correríamos o risco de deixar de estar vivo. de perdermos o belo. o sorriso das coisas simples – eu tenho sempre muito medo de ser feliz. não é culpa minha. é coisa do caminho das vontades. ou do destino. e quando ainda vivo a felicidade. já me interrogo qual será o seu preço. que mal me chegará para voltar a ser eu – sinto esta coisa medonha. maldosa e matreira. uma ignomínia. como se perdesse a sombra. e um homem sem sombra não merece nada de bom. mas sou o que sou. nada mais – às vezes. naqueles dias especiais em que estou a gostar mais de mim. ainda tenho a ousadia de pensar que a mereço. e digo-me: o que já sofri não é recompensa para este laivo de luz e paz. e aceito-a. afinal. a cavalo dado não se olha a dente – mas o importante mesmo é que o cérebro teime com o corpo. que liberte as pedras. porque dentro do cérebro não existe uma pessoa. existe uma alma que é uma multidão. uma alma que é feita de todos aqueles que acordam para mais um dia. apenas mais um dia – e sim. é assustador. temos apenas mais um dia para nos absolver de todas as pedras. de todos aqueles que nos tomaram o corpo para pesar. de todos aqueles que por serem de todos. se fizeram assim como são. nada mais do que o que são – sei agora que para sobreviver precisamos de estar infelizes. se não estivéssemos infelizes. não mais procuraríamos a felicidade. e sem essa necessidade. absoluta. ficaríamos parados. e o mundo parava. todos os cérebros paravam. não haveria mais poetas. mais escultores. mais pintores. mais pianistas. os pássaros deixavam de voar. os peixes de nadar. a lua caía no mar. e os cães deixariam de ladrar e de nos amar incondicionalmente – o mundo ficava plantado de espantalhos – eu tenho amor pelo certo. pelo saber. mas tragicamente. sou viciado na dúvida. desorganizo-me. remexo os papeis. espanto-me. e depois. para não ficar louco. curo-me com o que sobra de mim: e penso. porque pensar é conversar com a alma. e a minha resiste no cérebro – “Acredito que a teoria de tudo na vida de cada pessoa não envolve explicações científicas, mas sim um sentimento chamado amor, e se você já amou vai entender o que digo, apesar de que nem tudo precisa fazer sentido, você tem que compreender que onde existe amor, sempre existe tudo - jane hawking” – sem os outros todos seria apenas eu; a mesmidade seria insuportável – “dalí se valia daquilo que batizou de método paranoico-crítico. e que consistia em tornar a subjetividade o principal aspeto da obra. deixando a racionalidade de lado. uma tentativa de representar o fluxo do inconsciente e dos sonhos” – eu também aderi a este método

 

 

gente que amo

adotem-me

assim como sou

jurem-me perdão

e bondade

no que não fui

mas o que fui

que as bocas não se calem

todas

e se o negro for a minha cor

não vos culparei

eu morrerei com o azul da terra

e imortalizar-me-ei na escuridão do universo