.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

16/03/2024

alzheimer

 



 

nunca controlei a boca

nem a alma

nem a dor

nem a ira do pensamento

mas se um dia me perder

se o nome destapar

se a memória lascar

se do amor deslembrar

se escambar o dia e a noite

o bem e o mal

abracem-me

segredem-me o vosso nome

não me deixem partir sozinho

 

 

[para os meus filhos]



mais um dezassete. mais um março. mais um ano – já passaram vinte e seis anos que o vosso avô partiu sozinho. envolto no branco do hospital. sem que ninguém pudesse acompanhá-lo no adeus. sem que uma mão o conduzisse ao céu – ano após ano. e sem que a saudade desvaneça.  esse dia repete-se incessantemente em mim. é uma chaga que nunca fechará – viverá enquanto eu viver já que nenhuma absolvição serenará o meu pesar – faltou uma última palavra em sua casa. nossa – um último beijo. nosso – e um até sempre. nosso – tínhamos ficado em paz. nós todos

 



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