nunca controlei a boca
nem a alma
nem a dor
nem a ira do pensamento
mas se um dia me perder
se o nome destapar
se a memória lascar
se do amor deslembrar
se trocar o dia e a noite
o bem e o mal
abracem-me
segredem-me o vosso nome
não me deixem partir sozinho
[para os meus filhos]
mais um
dezassete. mais um março. mais um ano – já passaram vinte e seis anos que o
vosso avô partiu sozinho. envolto no branco silencioso do hospital. sem que
ninguém pudesse acompanhá-lo no adeus. sem que uma mão o guiasse ao céu – ano
após ano. e sem que a saudade desvaneça.
esse dia recomeça incessantemente em mim. é uma chaga que nunca fechará
– viverá enquanto eu viver já que nenhuma absolvição acalmará o meu pesar –
faltou uma última palavra em sua casa. nossa – um último beijo. nosso – e um
até sempre. nosso – tínhamos ficado em paz. todos nós
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