os
“camones” da europa poderosa andam por aí a dizer que inventaram o “mamading” –
um jogo onde se troca sexo oral por bebidas alcoólicas – mentira descarada – esses
gajos passaram foi pelo tasco da minha rua – aqui. há muito empo que se pratica
'mamareading' no meu café. isto é. mamas um café. e lês o jornal à borla – a
mania destes “camones” até mete nojo – mas a culpa é nossa. se tivéssemos
registado esta “mamada” no instituto nacional de propriedade intelectual. os
bifas não andavam por aí armados em génios da invenção – arre. que raiva destes
gajos – não há canal de televisão que não passe o mamading dos “camones”. quem
os ouve até pensa que inventaram a pólvora seca – se o nosso povinho tivesse
outra visão. quem apareceria nas televisões era eu. empinocado. a ler o meu
jornal de notícias em paz no botequim da minha rua – mas tristezas não pagam
dívidas – os descobrimentos também não foram obra do acaso. nascemos para as
grandes descobertas civilizacionais – onde há fumo. há sempre um tuga com um
fósforo na mão. a puxar fogo
26/07/2014
mamading vs. mamareading – a verdadeira descoberta
25/07/2014
desilusão
24/07/2014
texto
23/07/2014
narrativa na primeira pessoa
21/07/2014
josé luís peixoto - 21 de julho de 1984-2014
A Mulher Mais Bonita do Mundo
18/07/2014
anatomia da sombra
eis que a manhã me entornou luz ao pé das
pernas – agora. junto a mim. a sombra. feliz. sem olhos. sem ouvidos. sem boca.
sem coração. sem nada de quem lhe deu vida – não tarda. chega a noite. e parte
como chegou: sem nada – um dia. dar-lhe-ei tudo o que me pertence. e nunca mais
será sombra feliz
15/07/2014
14/07/2014
a substância do preto
dou pelo
nome de sampaio rego – escrevo. é na escrita que procuro reencontrar o acerto perdido
– sei que a escrita não muda uma vírgula no passado. sei-o demasiadamente bem.
mas preciso de escrever. preciso de me ver em papel. preciso de parar no presente.
renovar-me. absolver-me do pecado. purificar-me – quando escrevo fico preso na
eternidade das palavras – sinto o corpo escuro. preto. não. talvez quase preto.
um preto de terylene. sombrio. opaco. débil. como quem vai desmaiar a qualquer instante.
só as palavras brilham no branco. emergem densas. viscosas. tingidas de preto –
preto. gosto da cor preto. é a cor mais escura de todo o espectro de cores. moldada
através da mistura de três pigmentos primários: vermelho. amarelo e azul – preto
pode ser apreço. etiqueta. morte. desolação. isolamento. medo. solidão. ausência
de cor. ou apenas um modo de estar na vida – quem diria que três cores frondosas
entranharam-me no corpo um preto-silêncio. preto–inseguro. preto-aflição – é
assim o meu preto – escrevo preto. para experimentar a escuridão do meu preto
procuro lugares ausentes do barulho. lugares cansados. lugares distantes da expectativa.
das pessoas. da existência das coisas. das ruas. das sombras. da cama. da
agonia. do pranto. do arrependimento – neste lugar da escrita. não há morte. já
se morreu há muito tempo. e a vida acontece em flaches sombrios. ácidos – gosto
do preto. gosto do silêncio entranhado no preto. gosto da raiva de língua
preta. do fumo preto no pulmão. dos pássaros pretos. e de gatos também. trazem
azar. quem diria. gosto do preto que se faz mulher. que me abraça num amor que
é ferida. que dói. dói a correr. dói à frente do corpo. mas dentro. dentro é
insuportável – amo o preto. nunca aprendi a amar outra cor – o preto é sempre
tão aconchegante. e eu. sempre frio. sempre isolado. sozinho – no preto o
silêncio é quase absoluto. raramente falamos. sussurramos. às vezes um desabafo
em voz mais grossa para prova de vida – o silêncio é nosso. vive no preto desde
sempre. nos arredores da vida. no descampado inútil. nas montanhas perdidas.
nas cidades desertas. sem sirenes. sem ambulâncias. sem gente maltratada. sem
cães vadios. sem velhos. sem portas. sem cartas e carteiro. sem nada que faça
contraste com o preto – o preto é a minha companhia. fundimo-nos. todas as
noites ali estamos. namorados eternos. consumindo escuridão. enrolada num
charro de erva. a alucinar. a causar pânico. paranoia. terror – a noite demora
sempre mais que o dia. mesmo no solstício de verão – são sempre tão demoradas.
negras. a cobrar sentimento – é única cor que nunca me abandonou. não sei viver
sem a escuridão do preto – gosto do preto. habituei-me a gostar. deram-me à
nascença. e por aqui foi ficando. para sempre. acredito – já não conseguiria
viver sem este negrume. sem este contentamento descontente – tenho medo de me
perder numa overdose de contentamento. já não tenho raiva por amar o que é meu
por destino. amo o preto da mesma forma que amo as pernas e as mãos – sem o preto.
não caminhava. sem o preto. não escrevia – à minha volta só perdura o que é
preto. gosto de preto-certeza em oposição a um branco-ilusão – tudo o que tenho
como certo é preto – lembro-me de andar vestido de preto. era interminável. o preto
fazia-me maior. mais elegante. mais atraente. mais confiante. mais “look”. mais.
“jet set”. dono da rua e do destino do mundo – com ausência de cor lá partia:
roupa interior preta. meia preta. calça preta. camisa preta. camisola preta.
casaco preto e para cobrir todo o preto uma gabardine preta igual à que keanu reeves
usava no matrix – caía-me que nem uma luva. que classe. como gostava daquele
preto impermeável. não havia mau tempo que lhe roubasse confiança. o capote
tomava conta de mim – acreditava que a gabardine preta me atiraria para um
futuro perfeito – nunca haveria de acontecer – todo eu era preto. preto. um preto alegre [havia alegria no preto. nunca
tinha feito luto]. preto-vida. só os olhos eram castanhos. com o tempo acabaram
por escurecer. hoje. com ausência total de luz. tombaram para o preto – corpo
preto. olhos pretos. palavra preta. vida preta – a cor é uma qualidade da luz.
o preto sente-se – a palavra escreve-se a preto porque o preto é uma cor
universal. só há noite porque há preto. só há morte porque há preto. e só há
viúvas porque estas se vestem de preto. todo o sangue pisado fica preto. e o
preto a dizer: és sampaio porque provaste que a cor das palavras vem da cor dos
olhos de quem as escreve – quem lê não acrescenta cor. absorve cor – empírico –
como sampaio não falo. tenho medo. o conhecimento mata cada vez mais escritores
que gostam do preto: camilo castelo branco. antero de quental. mário de sá
carneiro. trindade coelho. florbela espanca. o caminho da verdade é um calvário
que a ninguém interessa – porque me daria a quem não compreende esta atração
pelo preto? o autor escreve para si. escreve para fazer amor. e o orgasmo é a
palavra sentida. a frase que dá sentido a uma vida que é apenas dele – viver o preto
é vestir luto todos os dias pelo mesmo cadáver – sou sampaio. não sei se
gostaria de outro nome. mas que importa. escrevo a preto. preto é inexistência
de cor. na maior parte dos dias é inexistência de luz – escrevo o quanto baste
para me fazer entender. enquanto leitor sinto que o que escrevo é tudo o que
posso dar de mim. a palavra é um filho. um texto é uma família. um livro a perpetuidade.
uma bem-aventurança que não existe para gente que nasce a gostar do preto – se
o céu existisse de verdade. seria preto: vivo. límpido. soalheiro. carinhoso.
generoso. justo. e não haveria uma única palavra escrita – ninguém escreve no
céu que me impingiram nas aulas de religião e moral. nesse céu não há noite.
nem mar. nem chuva. nem lua. nem peixes. nem árvores. nem os pássaros de ruy
belo. há um deus que não me conhece – escrevo. escrevo palavras com a esperança
de perpetuar o nome que uso nos silêncios pretos – escrevo gritos que guardo no
corpo. ouço-os quando quero. e quando não quero. no meio das consoantes surdas só
as vogais fechadas dão sentido a uma vida que se esgota a uma só cor. preto preto
– como se odiasse. o amor grita: o amor só se faz por amor – aqui estou neste
preto que já não é luto. nem amor. é rotina. onde o prazer não se cansa de marrar
na cabeça de quem carece de escrever-se – escrevo. escrevo o momento – o escritor é um comunicador silencioso. um ventre grávido
de si no tempo – escrevo porque não desisto de ser feliz. mas. mais do que ser
feliz. escrevo porque quero continuar a viver. a única forma de escapar ao
preto dos lutos – tenho medo. o preto devora toda a radiação luminosa – *“mas
não me toquem nessa dor. ela é tudo o que me sobra – um homem com uma dor é
muito mais elegante. caminha assim de lado como se chegando atrasado chegasse
mais adiante”
Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Com se chegando atrasado
Chegasse mais adiante
*paulo leminski
13/07/2014
retalhos – número de série 13072014s(r)ego20
a felicidade não se escreve – digo eu – quando fico feliz. dissolvo-me do corpo e as mãos ficam à deriva
12/07/2014
retalhos número de série 12072014s(r)ego19
não sei quantas almas tenho - fernando pessoa
Fernando Pessoa
05/07/2014
04/07/2014
o homem sem caminho
cortei as pernas. já não tenho mais caminho para
fazer – para que quer um homem pernas que não o levam a lado nenhum? para nada
– cortei-as em rodelas e pendurei-as numa figueira. oferenda à passarada
necrófaga – um fim nobre para carne que já não serve – as árvores morrem de pé
e não têm pernas
03/07/2014
triste é...
triste é estar só
triste! é não
saber o que fazer
não saber o que
pensar
não preparar o
futuro
esquecer o
passado
chorar sem saber
porquê
desfrutar de
lágrimas insossas
dizer não ao sim.
triste é não ver
o pôr-do-sol
não sentir a
chuva
o vento
o aroma das
flores
o grito dos
animais
os gestos mudos
os carros a
passarem
o telefone a
tocar.
triste é não
poder vaguear
não sentir dor
escrever sem
saber
largar os
remorsos
partir os
espelhos
ser o que não
somos
ter medo do dia
querer o que não
podemos
triste é não amar
não olhar
filosofar para o
espaço
não ter hora nem
abraço
não ter leito
paz ou capataz
correntes,
amarras ou
âncoras.
triste é não ter
poemas
livros com prosas
bíblias de amor
saudades finitas
pensamentos
pecados
omissões
guardiões.
triste é não ter
mãe
esquecer o pai
estragar o fruto
congelar o sabor
ter um tempo
depois
um adeus
uma cobardia
um fantasma.
triste é não ter
memória
um abrigo
um choro de
irmãos
um avô que te
espera
uma avó que
tricota
um vizinho
um amigo
um inimigo.
triste é sermos diferentes
desprezados no
olhar
referenciados e
marcados
esquecidos
contidos e
odiados
chorados
olhados
espoliados.
triste: é apenas o contrário de alegre.
26 / 12 / 2002
"na companhia da solidão"
infindo
das mãos
eclodiu com suavidade
a ideia
acorrentada a um fio de azeite
cresceu
talvez imensa
deixou de ser apenas um substantivo comum
adjetivou-se com superioridade
excedeu as preposições
esgotada
tombou – livro