às vezes interrogo-me porque corro se nunca sei para onde
vou. porque corro se não há lugar que me espere. porque corro se ninguém me
entende – e mesmo nos dias em que me aborreço de correr. corro em sentido
contrário. como se fugisse de mim. só para poder ouvir. repetidamente. a voz da
minha mãe – e cá estou eu neste mundo que não é meu. nem de ninguém que corra
sem rumo e sem fortuna – quando estou bem. corro. quando estou assim-assim.
corro. quando estou aborrecido. corro. corro sem saber parar – corro como se o
único caminho para ser o que não sou fosse aquele que faço a correr – corro e
chamo pelo meu nome. e pergunto-me: sou filho de quem se sempre que corro
perco-me – sou filho de quem se corro e não chego a lado nenhum – esta corrida
não pode nascer de uma bênção. nem de um barco. de um fado. é. por certo. uma
espécie de castigo onde o corpo implora para chegar aonde nunca chegará – só o
afeto me salva destas corridas sem tino. sem destino. sem sentido – bem sei que
tudo isto é confuso. um pouco louco. desconchavado também. e tudo porque
aprendi a correr em vez de caminhar
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