.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

04/01/2021

às vezes

 


pintura - remedios varo

 

às vezes interrogo-me porque corro se nunca sei para onde vouporque corro se não tenho lugar que me espere. porque corro se ninguém me percebe – e mesmo nos dias em que me aborreço de correr. corro em sentido contráriocomo se corresse para fora de mim e pudesse ouvir. repetidamente. a voz da minha mãe – e cá estou eu neste mundo que não é meunem de ninguém que corra sem fortuna – quando estou bem. corro. quando estou assim-assim. corro. quando estou aborrecido. corro. corro sem saber parar – corro como se descobrisse que o único caminho que me faz ser o que não sou é aquele que faço a correr – corro e chamo pelo meu nome. e pergunto-mesou filho de quem se sempre que corro perco-me – sou filho de quem se corro e não chego a lado nenhum – esta corrida não pode nascer de uma bênçãonem de um barco. de um fado. ou uma espécie de castigo onde o corpo implora para chegar aonde nunca chegará – só o afecto me salva destas corridas sem tino. sem destino. sem sentido – bem sei que tudo isto é muito confuso. às vezes um pouco louco. desconchavado também. e tudo porque aprendi a correr em vez de caminhar

 


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