minha mãe
não é culpa tua. minha
mãe
saí apressado
para ir onde não queria
chegar
e cheguei…
sem nunca sair de onde
parti
as gaivotas iludiram-me
com o vento
e eu…
ergui castelos de areia
e fui…
e tornei-me eu
e cresci
e tornei-me ainda mais
eu
e amei o que calhou
às vezes ingénuo
às vezes a correr
às vezes sem querer
às vezes…
arrependido de ir onde
não queria chegar
e chegar sem nunca ter
partido
a família sempre foi o
meu sustento
mas mesmo assim…
empurrei-me para sul
e cresci a norte
era apenas outono
e todas as folhas
se fizeram papel
e eu
a perguntar-me
porque te fizeste ao mar
se a tua casa é maior do
que neptuno
talvez pelo vento. minha
mãe
talvez pelo vento e as
gaivotas
talvez por me parecer
outono
e todas as folhas
se fazerem papel
talvez por me parecer
fácil
crescer sem ti
perdoa-me. minha mãe
por ir para onde não
queria chegar
e chegar sem nunca sair
de ti
perdoa-me
não é culpa tua. minha
mãe
iludi-me com o vento
iludi-me com o vento e
as gaivotas
mas sempre foste tu.
minha mãe
e foi dentro de ti
que aprendi a amar
este vento que me levou…
onde nunca quis chegar
1.
2.
e agora.
que já envelheci o suficiente para ser um pouco mais sábio e humilde. recordo a
minha infância com gratidão – nasci numa casa onde uma única porta servia o
trabalho e a família – sem perceber. cresci e tornei-me adulto num ninho de
ouro – a juventude ilude-nos com fantasias tolas. acordamos com a ideia de que
nascemos com uma estrela na testa. que somos especiais. obra de um qualquer
deus do universo – infelizmente. às vezes. precisamos avelhentar para perceber
que as estrelas não pertencem a ninguém. vivem livres e acendem-se para nos
confortar das desilusões – eu fui somente mais um humano neste universo enorme
de almas – tive. isso sim. uma família especial. que se matava a trabalhar para
que eu colhesse uma mocidade que eles não tiveram direito – fiz-me homem. e
tudo o que fui… aos meus pais o devo. foram eles que fizeram o caminho das
pedras para que eu crescesse tranquilo. e caminhasse num tapete de generosidade
– espero agora que os meus filhos tenham a sabedoria dos avós. e entendam
rapidamente que o que temos de mais valioso é o legado da família. e a estrada
que fazemos com ela. e por ela – os filhos não são todos iguais. mas são todos nossos.
e isso basta para que nos aceitemos uns aos outros nas diferenças. porque no
essencial… somos família. e para sempre – não quebraremos este desígnio que
herdamos. nunca – a família é uma âncora que arrastamos com um sorriso ao longo
da vida
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