quando me sinto revoltado. magoado. ou
confuso. perco-me de mim. e o que era paz passa a zumbido. permanente. agudo.
sufocante e doloroso – para recuperar a serenidade e abafar o zumbido
refugio-me em mim: censuro o telejornal. queimo os jornais. mesmo os que me
chegam em formato digital. deixo de ver o feed de notícias do facebook. e
bloqueio o WhatsApp – digo. tranco-me do mundo – é a única forma de me proteger
do que não posso mudar: isolo-me. escondo-me. silencio-me. e neste modo
troglodita sei que ninguém perceberá as minhas palpitações inquietas – porque
ninguém é obrigado a perceber e compreender as minhas fragilidades. quando
resolvo abandonar a minha caverna e saio para o mundo. torno-me um imitador. um
mágico da ilusão – imito a alegria lançando foguetes. e assim posso apanhar as
canas – imito acenos com cabeça para cima e para baixo. e assim ninguém me
interroga – imito as palermices dos amigos para que me pareça com a trupe. e
assim me reconheçam como um deles – imito o sucesso para que me sinta inclusivo
na sociedade. e assim passar despercebido – imito a fé mesmo restando pouca
esperança no modelo de sociedade de que faço parte. e assim prolongo o meu
esforço de tolerância com os outros – passo a vida arrastando-me para fora do
que sou. e vivo o que não sou – o mundo só é real para aqueles milhares de
crianças que morrem diariamente de fome – só é real para todos aqueles que são
perseguidos pelas suas convicções políticas. pela situação racial. opção
sexual. ou crença religiosa – o mundo só é real para as mulheres que no século
XXI ainda são obrigadas a usar o véu religioso obrigatório – o mundo só é real
para aqueles que ainda não têm acesso a educação gratuita. a água potável. a
saneamento básico. a cuidados de saúde primários. a garantia de acesso ao
direito e à justiça. e a um teto para dormir e descansar – a carta das nações
unidas foi assinada em são francisco a 26 de junho de 1945. logo após o final
da segunda grande guerra. e propôs-se preservar as gerações vindouras do
flagelo da guerra – infelizmente. e vergonhosamente. algumas nações continuam a
ignorar um tratado que pronunciou um compromisso de defender os direitos
humanos do cidadão. que são: os meus direitos. os vossos direitos. os direitos
de todos aqueles que ainda não nasceram – paulo portas. no seu programa semanal
ao domingo na TVI. global. e a propósito da herança que adriano moreira nos
deixou no dia da sua partida terrena. disse: “o que protege as nações dos
ventos mais radicais, das ruturas mais destrutivas, dos equívocos mais sérios,
são as instituições.” – adriano moreira elevou. dignificou. e protegeu sempre
as instituições por onde passou – estas instituições. criadas pelo homem para
defender e proteger os seus direitos e as suas diferenças. são cada vez menos
independentes dos políticos. das religiões. e do autoritarismo – são as guerras
que arruínam o que o homem foi fazendo de mais significativo ao longo dos
séculos. principalmente nos últimos dois – redução da pobreza. diminuição da
população em risco de desnutrição. acesso a água potável. mais cuidados de
saúde. mais educação. menos deslocados. mais tolerância. mais informação. mais
circulação de mercadorias. pessoas e bens. mais mundo global. menos países e
regiões – as fronteiras já não se reconhecem pelos rios ou arame farpado.
tornaram-se elásticas de acordo com os interesses políticos e económicos. há
uma imergente “multiterritorialidade”. veja-se o crescimento da união europeia
– as fronteiras foram derrubadas para que as mercadorias. pessoas e bens
circulem livremente. sem oposição dos estados originários – o que importa é o
todo. hoje somos da CE. depois. podemos até dizer que somos portugueses. mas é
apenas indicativo. os direitos e obrigações que nos tutelam são cada vez menos
a nossa constituição. e cada vez mais a “constituição” europeia como exemplo desse novo mundo em
construção – o mundo está em processo
acelerado de miscigenação. e acredito. que daqui a algumas dezenas de anos. a
globalização. mesmo não sendo homogénea. acabará por transformar
definitivamente o mundo tal como o conhecemos – há cada vez mais um enovelado
de estradas terrestres. de pontes aéreas. de portos marítimos. as mercadorias e pessoas giram de um lado
para o outro. cada vez mais rápidas. cada vez mais como se o mundo fosse uma
nação com um só povo – nos nossos dias. é pela certificação dos produtos. pelo
made in. pelos direitos do seu povo criador e trabalhador. pela liberdade de
imprensa. pelo direito à greve e ao protesto. e principalmente. pelo respeito e
consolidação da carta das nações unidas. que se delimitam as fronteiras – a
globalização é a terceira revolução industrial. revolveu as relações sociais. o
conhecimento. e deu início a uma nova era: mais tolerante. mais inclusiva.
amiga do ambiente. amiga dos animais. mais livre. mais mulheres no trabalho e
em cargos de relevo. mais educação. conhecimento. mais direitos. mais saúde. e todos
iguais. todos diferentes – estamos agora em plena terceira grande revolução
industrial. e os benefícios para o homem são inquestionáveis. menos horas de
trabalho. mais horas para a família. melhores salários. fabrica-se mais
em menos tempo. máquinas mais modernas e mais amigas do homem. mais
agricultura. novas ferramentas. aliando a estas o conhecimento científico e por
fim. tudo a uma velocidade 5G – este é o mundo global. menos barreiras físicas
e mais interdependência social. mais economia. mais instituições democráticas.
mais ambiente. e mais cultura – apesar de todas as revoluções e inovações. o
mundo teima em apodrecer. em magoar-se. escravizar. segregar. em se matar com
bombas cada vez maiores e mais mortíferas – cresci com a guerra do ultramar.
depois surgiu a guerra das falklands. logo de seguida golfo. kosovo.
afeganistão. iraque. e agora ucrânia. e estou apenas a recordar as mais
relevantes – milhões de mortos. milhões de mães em agonia. milhões de crianças
sem pai. milhões de esposas sem marido. milhões de deslocados – com esta
barbárie só os senhores da guerra ganham. ou mais terra. ou mais poder. ou mais
riqueza. ou mais importância. ou apenas um legado na história. mesmo que seja
com o cognome do mais cruel. o mais assassino. ou o mais impiedoso – porque
falham os homens? porque falham as nações? porque falham as políticas? porque
falham as instituições? o sucesso de um país. ou dos países. ou do mundo. não é
determinado pela sua situação geográfica. cultura. ou religião. são as
instituições criadas pelos homens que determinam o seu sucesso – o mundo
precisa de paz. e de uma nova ONU. esta. já não nos salva dos homens maus
.................................................................................não tirem o vento às gaivotas
10/02/2023
precisamos de uma outra ONU
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