segunda-feira em lua – é o primeiro dia do ganha pão. e o
primeiro dia em que a insustentável leveza da alma se perde à procura de
monopólios excêntricos e supérfluos – procuramos de manhã à noite. da juventude
à velhice. e nunca encontramos nada tão belo e valioso como quando regressamos
a uma casa com filhos pequenos – e ouvimos a barriga da família dizer: vão dar
um beijo ao vosso pai que chegou agora – e eu. pai. de braços abertos para um
amor que nunca saberei explicar. recebo e guardo cada beijo. cada sorriso. cada
abraço. cada correria acabada ao meu pescoço – a vida faz-nos justiça quando
nos tornamos avós. agora sabemos que os nossos filhos sentem o mesmo amor. e
finalmente nos sentimos compreendidos com os excessos: preocupamo-nos demais.
amamos demais. zangamo-nos demais. exigimos demais. com os filhos tudo é demais
– e como esse amor dói e nos faz sorrir – os filhos são o nosso eterno sobressalto.
nunca crescem o suficiente. nunca estão totalmente protegidos. nunca foram
amados o bastante – às vezes gostava de os ter novamente pequenos. novamente só
meus. as correrias de um lado para o outro. as sirenes dos carros a zoar. a
bola aos tropeções. e tudo em casa desarrumado. como a cabeça – e eu a querer
que eles cresçam mais alto do que as montanhas. que cheguem ao céu já que eu
nunca passei das nuvens: não olhes para a TV; olha a comida no prato; a sopa
vai ficar fria; come tudo para cresceres; come a cenoura que te faz os olhos
bonitos; só vos quero ver casados e arrumados – e agora. talvez não lhes desse
a sopa. talvez os deixasse ver pokémon de manhã à noite. talvez fosse eu a
desarrumar a casa. mas certo certo. não comiam mais cenoura. ficariam para
sempre com aqueles olhos iluminados de pureza – sim. sempre quis ser pai – um pai
babado é o culpado de todos os males que afligem os filhos. e interrogamo-nos
vezes sem conta: fiz tudo o que deveria ter feito? será que errei em alguma
coisa? podia ter feito mais e diferente? – que importa isso se tenho os
melhores filhos do mundo – a minha família continua a ser um bonito conto de fadas – chegaram os
netos. e o que sinto. é o regresso dos filhos à infância
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