a noite nas mãos – escrevo – procuro nas
palavras o que deus me deu de escritor. digo escritor porque não sei dizer mais
nenhum nome que traga nas palavras dor e na leitura amor – inclinado. gosto do que
penso. e penso: um dia terei uma palavra só minha. mais longa do que o meu nome
– sou da plebe por isso duvido – fonemas? não interessa. a leitura é aconchego
– escrevo – quem sabe se com a ajuda de um gnomo um dia possa ser uma folha A4.
dobrada em quatro. guardada no fundo de um bolso com quatro cantos – um casaco meu
– gasto pelo tempo e pela moda. sem estação. sem nenhum dia especial para dizer:
vesti-o – costurado por mim. sem nome. remendado. quase trapo. a forma é-lhe
dada pela cruzeta e pelo passado: cotovelos gastos. punhos esfiados. cor
desbotada. tudo isto preso a um guarda-vestidos que já nada guarda – agarrados
a este nada. só eu e o casaco. um quer ser escritor. o outro só quer sair à rua
num corpo com profissão – casaco de escritor? já não vou a tempo – como se o casaco
de um escritor guardasse a magia dos ilusionistas e. num passe de pura magia. pudesse
mudar o destino de um casaco que nasceu para não ter nome – destino? quem pode
mudá-lo? ninguém – não há gaivotas a sair de dentro de cartolas. só pombas – só
sobreviverei nos olhos de quem guarda folhas A4 – se um dia esta gente de vento
tiver sorte. dirá: desde que meti esta folha A4 no bolso a vida é uma gaivota –
sempre fui gaivota. sempre fui livre. nasci assim – nesta noite de janela aberta.
as minhas mãos já passaram além de taprobana – seria assim que diria camões?
quero pensar que sim. afinal sou lusitano. e os lusitanos sempre gostaram de
viajar. bem sei que não é uma caravela. mas é uma folha de papel A4. se apanhar
vento de feição. pode muito bem dar a volta ao mundo – noite profunda. sou
noite profunda – a noite nunca dorme. e encolhe a cada dia. inversamente à
minha vontade de escrever. imensa
04/03/2012
A4
cezanne
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então escreve: porque a noite das tuas mãos é tempo sem margem. tapete de papel onde nos sentas e nos (d)escreves voos acima do finito.
ResponderEliminarobrigado teresa - as tuas palavras-papel traz a tua voz - alegria. é assim que se escreve prosa - somos tão poucos a gostar da verdade - esta mania de escrever o ser - falo assim teresa. falo
ResponderEliminarbeijo