.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

08/08/2012

e assim comecei a escrever




tolstoi por nicolai ghe


escrever foi a minha maior descoberta. tão importante como o fogo para o homem pré-histórico. para mim. reforço – a partir do momento em que comecei a escrever. ganhei voz. corpo. volume. e trouxe por fim algum descanso ao silêncio barulhento que habita comigo este pré-cadáver – no entanto. este ruído que só eu sei ouvir. não para de me lembrar que. por mais palavras inventadas. fabricadas. engendradas. este não silêncio terá sempre o seu lugar cativo no meu desespero. mesmo que eu teime em tornar a minha descoberta na solução de todos os males – bem sei que sou ainda egoísta. interesseiro. talvez até de mau carácter. pois escrevo sobretudo para mim – mas isto está a mudar aos poucos. um dia destes. acordo diferente. não sei se perdido ou encontrado. passarei a escrever tudo o que deslindo nos outros e não mais o que esta carcaça guarda – penso que isto não seja possível. mas. por agora. façamos de conta que sim – por isso digo para mim. escritor de meia tijela. escrever é um ato de desespero. em que a minha verdade se prende às palavras que chegam ao papel – escrever é fazer sobreviver um corpo muito para além de uns lábios que só sabiam beijar. dizer obrigado. nomear a alegria. ou simplesmente reconhecer presenças – confesso que gosto deste falar silencioso das palavras  – ainda não há terra à vista. mas o tempo corre sempre a favor dos náufragos. quanto mais tempo conseguir manter as palavras à tona da água. maior chance há de que estes textos sobreviverem ao seu autor 



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