.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

02/04/2014

tudo-incondicional



leonid afremov
 

a minha amiga ana martins recordou no seu facebook uma prosa poética de minha autoria que se intitula - tudo

passaram-se três anos

acredito que para os mais novos. estes três míseros anos não são relevantes. afinal. o que são três anos no corpo imortal de um jovem – para mim. que a imortalidade já não é atingível. é um horror de tempo – infelizmente o tempo esgota-se velozmente

 

nestes três anos. muitas coisas se passaram dentro do corpo. muitas metamorfoses. mais dúvidas. mais perguntas sem respostas. mais viagens ao passado num esforço de credibilização do presente – uma luta contra os meus moinhos de vento - mas vida é isto mesmo. para alguns o destino é traçado com a hora do nascimento. para outros. são os atos criados à sua volta que indicam o caminho – o tempo passa. o corpo envelhece. a força que nos ergueu é agora aquela que nos empurra para dentro da terra – o desespero aumenta com a convicção de que cada vez temos menos verdades absolutas – nada é igual a ontem – tenho o corpo cansado na procura de uma razão para o que sou – aprender até morrer. o ditado tem razão

 

mas há certezas que já não mudam nunca mais. o “tudo” da minha prosa poética é agora definitivamente um tudo-incondicional

 

obrigado ana por trazeres um texto tão especial para mim

 

tudo-incondicional

 

passaram-se mais de três anos desde que escrevi a prosa poética “tudo”. é muito tempo numa vida que se consome cada vez mais rapidamente – tudo passa tão depressa.  quando damos conta. tudo o que temos é tempo gasto. algumas memórias e muita saudade de pessoas que fizeram parte da nossa vida e já partiram  – mas é assim para tudo e para todos – por muito que nos custe. a idade traz a morte e dentro desta vai o conhecimento de um mundo sentido e vivido sempre na primeira pessoa – voltando ao texto. confesso que este meu tudo está ultrapassado.  já não sinto o que sentia. já não sou capaz de escrever o que escrevi –  o dilatar da idade traz um saber que a juventude desconhece – diz-se que o amor aos filhos é incondicional. um tudo para toda a vida. para sempre – é verdade. mas para quem gosta de escrever como eu ainda é mais difícil transpor para a escrita esta incondicionalidade – sem palavras suficientes para o descrever. sem mãos capazes de o abraçar. sem lágrimas suficientes para ser chorado. um tudo que nos dói mesmo nas alegrias. sempre a crescer. o biberon. o primeiro passo. o primeiro dia da escola. a adolescência. a primeira namorada. e o homem feito de tudo que é nosso para sempre – não há tudo mais belo do que este. sei-o desde o dia em que me deram para os braços o meu primeiro filho. e a palavra pai é agora amada incondicionalmente. para o bem. para o mal. para a alegria. para a tristeza. para a saúde. para a doença. para a chegada do primeiro filho do meu filho – pai duas vezes. duas vezes tudo. duas vezes amor incondicional  – a minha companheira. a minha mãe dos meus filhos. a minha confidente. a minha amiga.  a minha amante. a minha força de vida. já não é tudo. não. o tudo é agora uma palavra só. sem sentido se não acrescentar a incondicionalidade – esse meu tudo passou a um tudo-incondicional – tudo na MJ é agora incondicional-tudo – os meus filhos e a minha companheira têm o meu amor incondicional – um tudo-incondicional. mesmo – até sentir os seus lábios quentes na minha carne gélida



Sem comentários:

Enviar um comentário