a
minha amiga ana martins recordou no seu facebook uma prosa poética de minha
autoria que se intitula - tudo
passaram-se
três anos
acredito
que para os mais novos. estes três míseros anos não são relevantes. afinal. o
que são três anos no corpo imortal de um jovem – para mim. que a imortalidade
já não é atingível. é um horror de tempo – infelizmente o tempo esgota-se
velozmente
nestes
três anos. muitas coisas se passaram dentro do corpo. muitas metamorfoses. mais
dúvidas. mais perguntas sem respostas. mais viagens ao passado num esforço de
credibilização do presente – uma luta contra os meus moinhos de vento - mas
vida é isto mesmo. para alguns o destino é traçado com a hora do nascimento.
para outros. são os atos criados à sua volta que indicam o caminho – o tempo
passa. o corpo envelhece. a força que nos ergueu é agora aquela que nos empurra
para dentro da terra – o desespero aumenta com a convicção de que cada vez
temos menos verdades absolutas – nada é igual a ontem – tenho o corpo cansado
na procura de uma razão para o que sou – aprender até morrer. o ditado tem
razão
mas
há certezas que já não mudam nunca mais. o “tudo” da minha prosa poética é
agora definitivamente um tudo-incondicional
obrigado
ana por trazeres um texto tão especial para mim
tudo-incondicional
passaram-se
mais de três anos desde que escrevi a prosa poética “tudo”. é muito tempo numa
vida que se consome cada vez mais rapidamente – tudo passa tão depressa. quando damos conta. tudo o que temos é tempo
gasto. algumas memórias e muita saudade de pessoas que fizeram parte da nossa
vida e já partiram – mas é assim para
tudo e para todos – por muito que nos custe. a idade traz a morte e dentro
desta vai o conhecimento de um mundo sentido e vivido sempre na primeira pessoa
– voltando ao texto. confesso que este meu tudo está ultrapassado. já não sinto o que sentia. já não sou capaz de
escrever o que escrevi – o dilatar da
idade traz um saber que a juventude desconhece – diz-se que o amor aos filhos é
incondicional. um tudo para toda a vida. para sempre – é verdade. mas para quem
gosta de escrever como eu ainda é mais difícil transpor para a escrita esta
incondicionalidade – sem palavras suficientes para o descrever. sem mãos
capazes de o abraçar. sem lágrimas suficientes para ser chorado. um tudo que
nos dói mesmo nas alegrias. sempre a crescer. o biberon. o primeiro passo. o
primeiro dia da escola. a adolescência. a primeira namorada. e o homem feito de
tudo que é nosso para sempre – não há tudo mais belo do que este. sei-o desde o
dia em que me deram para os braços o meu primeiro filho. e a palavra pai é
agora amada incondicionalmente. para o bem. para o mal. para a alegria. para a
tristeza. para a saúde. para a doença. para a chegada do primeiro filho do meu
filho – pai duas vezes. duas vezes tudo. duas vezes amor incondicional – a minha companheira. a minha mãe dos meus
filhos. a minha confidente. a minha amiga. a minha amante. a minha força de vida. já não
é tudo. não. o tudo é agora uma palavra só. sem sentido se não acrescentar a incondicionalidade
– esse meu tudo passou a um tudo-incondicional – tudo na MJ é agora incondicional-tudo
– os meus filhos e a minha companheira têm o meu amor incondicional – um tudo-incondicional.
mesmo – até sentir os seus lábios quentes na minha carne gélida
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