leonid afremov
a minha amiga ana martins recordou no seu facebook uma prosa poética de
minha autoria que dá pelo nome - tudo
passaram-se três anos
acredito que para os mais novos
estes três míseros anos não são relevantes. afinal o que são três anos no corpo
imortal de um jovem – para mim. que a imortalidade já não é atingível. é um horror
de tempo – infelizmente o tempo esgota-se
velozmente
neste três anos. muitas coisas se
passaram dentro do corpo. muitas metamorfoses. mais dúvidas. mais perguntas sem
respostas. mais viagens ao passado num esforço de credibilização do presente –
uma luta contra os meus moinhos de vento - mas vida é isto mesmo. para alguns o
destino é traçado com a hora do nascimento. para outros. são os actos criados à
sua volta a dizer para onde é o caminho – o tempo passa. o corpo envelhece. a
força que nos ergueu é agora aquela que nos empurra para dentro da terra – o
desespero aumenta com a convicção de que
cada vez temos menos verdades absolutas – nada é igual a ontem – tenho o corpo
cansado na procura de uma razão para o que sou – aprender até morrer. o ditado
tem razão
mas há certezas que já não mudam
nunca mais. o “tudo” da minha prosa poética é agora definitivamente um tudo
para sempre. um tudo-incondicional
obrigado ana por trazeres um texto
tão especial para mim
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publicado no blogue em - 22/12/10
tudo-incondicional
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passaram-se mais de três anos desde que escrevi a prosa
poética “tudo”. é muito tempo numa vida que se consome cada vez mais rapidamente
– tudo passa tão depressa. quando damos
conta. tudo o que temos é tempo gasto. algumas memórias e muita saudade de
pessoas que fizeram parte da nossa vida e já partiram – mas é assim para tudo e para todos – por
muito que nos custe a idade traz a morte e dentro desta vai o conhecimento de
um mundo sentido e vivido sempre na primeira pessoa – voltando ao texto. confesso
que este meu tudo está ultrapassado. já
não sinto o que sentia. já não sou capaz de escrever o que escrevi – o dilatar da idade traz um saber que a
juventude desconhece – diz-se que o amor aos filhos é incondicional. um tudo
para toda a vida. para sempre – é verdade. mas para quem gosta de escrever como
eu ainda é mais difícil trasladar para escrita este incondicionalidade – sem
palavras suficientes para o descrever. sem mãos capazes de o abraçar. sem
lágrimas suficientes para ser chorado. um tudo que nos dói mesmo nas alegrias. sempre
a crescer. o biberon. o primeiro passo. o primeiro dia da escola. a
adolescência. a primeira namorada. e o homem feito de tudo que é nosso para
sempre – não há tudo mais belo de que este. sei-o desde o dia em que me deram
para os braços o meu primeiro filho. e a palavra pai é agora amada incondicionalmente.
para o bem. para o mal. para a alegria. para a tristeza. para a saúde. para a
doença. para a chegado do primeiro filho do meu filho – pai duas vezes. duas vezes
tudo. duas vezes amor incondicional – a
minha companheira. a minha mãe dos meus filhos. a minha confidente. a minha
amiga. a minha amante. a minha força de
vida. já não é tudo. não. o tudo é agora uma palavra só. sem sentido se não
acrescentar a incondicionalidade – esse meu tudo passou a um tudo-incondicional
– tudo na MJ é agora incondicional-tudo – os meus filhos e a minha companheira
tem o meu amor incondicional – um tudo-incondicional. mesmo – até sentir os
seus lábios quentes na minha carne gélida
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