.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

24/03/2017

o filho da puta do meu facebook mata-me de tristeza ao fim de semana







pintura - susana soto poblette





lamento. acreditem que lamento mesmo. bem que gostava de usar este face para outro fim que não fosse este de vos entregar este nada em que me converti – tal como os extremistas religiosos também eu adotei outro nome para o facebook – bem sei que hoje é véspera de fim de semana. e também sei que amanhã será outro dia diferente de hoje. estarei então a olhar para coisas humanas em estado eminente de ejaculação multiplica de amigos – direi: estou morto. morto com a alegria dos outros. e eu enterrado em tristeza corro o facebook em desespero e sinto a vida a partir. e a loucura envolta em água turva. tão turva que os peixes não nadam. caminham de pé por dentro de mim. e as guelras feitas de naturezas mortas. maças podres. podres de sentimento. com sorrisos que cantam o cântico da praxe: hino à alegria de beethoven – e eu viajo para a morte arrastado por esta corrente de gente que não morre de solidão – só eu vivo esta ironia. numa mão uma rosa. na outra. um movimento louco de me atirar para o fim do mundo à procura de gente como eu – não encontro paz. vazio. tudo vazio. como se o espaço facebookiano fosse apenas eu e meu cão que não tem perfil – e olhos a correr para uma morte que não escolhi.  queria tanto ter amigos como eu – estou cada vez mais só. só nesta forma de estar. e a prosa que escrevo é carne da minha carne contaminada de lepra – não sei rir neste meu face. não sei colocar frases de incentivo. não sei mandar beijinhos. não sei destapar a boca do amor para tantos amigos que não conheço. o meu rigor é uma muralha que resiste – arrasto-me para esta borda do corpo e juro que se um dia me suicidar será para dentro do meu corpo. morrerei eu e os meus peixes e enterrarei os meus resto mortais no vale das utopias –  estou morto por um punhado de likes mas ainda resisto ao lado escuro do facebook – resisto eu e o meu cão. neste mundo de sombras mortas tentamo-nos entender: dou-lhe um biscoito e recebo em troca um like de sorrisos de verdade – e então canto. canto poesia que não é minha e a morte premeditada ligada a um fio terra enrolado ao pescoço –  o enforcado da carta sou eu – não sou nada neste meu facebook. não sei dar likes com o dedo para cima porque estou de cabeça para baixo – não sou feliz. não – sou verdadeiro na minha solidão




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