.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

07/02/2012

assim





                                                                      rembrandt






não estou
[escusam de me procurar]
parti
parti assim assim
fui-me em silêncio

esqueci tudo
estou por tudo
cansado do tempo
abandonei
o corpo
assim assim

bem
quer dizer
não sei
talvez tenha morrido
morrido assim assim

quem sabe
este meu assim assim
seja um erro na linha do tempo
um momento vazio
um segundo eterno
mas não é
agora já não é
o tempo
o tempo consumi-o todo
num corpo assim assim

restam os chinelos de agasalho
parados
sem pé
guardam o espectro
de um tempo dependurado
assim assim

perdido
nas paredes os gritos
sufocados pela cor da tinta
branco assim assim
branco. branco. branco
e o corpo.
perdido em busca de outro corpo
e o laço da corda
baloiça
assim assim

onde estou se não estou aqui
para onde fui
se da cor não sou
nem assim
nem assim assim

diz-me tu
que escreves assim
sou o que não sou
sombra
sombra assim assim

se um dia o sol morrer
mesmo que seja
assim assim
a sombra será eterna
nesta dor de ser
assim

inventei-me todos os dias
numa história
era uma vez
depois
depois não sei
foi tudo assim assim

dentro do tempo
o corpo
assim assim
perdida nas paredes
a vida
assim assim
a cabeça
assim assim
e a seus pés
decapitados pela razão
os olhos
assim. mortos de pó

 
 

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