nota introdutória
 
nos próximos dias vou partilhar convosco seis
capítulos de um mesmo texto – eu no boom festival – não é apenas o relato de um
evento de música – é a história de uma viagem interior – onde cada batida. cada
encontro. cada silêncio. se transformaram numa das experiências mais marcantes
da minha vida – escrevi para que se leia como quem ouve música – no ritmo das
palavras. no compasso das pausas. no fluxo das emoções – espero que encontrem
nestas páginas não só a descrição de um festival único. mas também ecos de liberdade.
de pertença. e de descoberta – convido-vos a acompanhar esta aventura comigo –
que a leitura vos seja tão intensa quanto foi a vivência – e que de algum modo
vos inspire a procurar os vossos próprios caminhos de vibração e
consciência 
 
1. 
 1. ler é sentir
não uso vírgulas – os pontos tomam-lhes o lugar e
seguem o compasso do que escrevo – também não uso pontos finais – são os
travessões que me servem de pausa – algumas mais longas outras mais breves. mas
sempre abertas como o tempo – deixo ao leitor a liberdade do ritmo – é ele quem
dita a cadência da leitura – como numa peça de música clássica onde as notas se
soltam conforme a emoção de quem ouve – e de quem sente – escrevo para que me
leiam como se ouvissem uma balada – se será triste ou luminosa não me diz respeito
– a escolha é de quem lê – o meu papel é oferecer-lhe o caminho – um caminho
feito de palavras que vibram. assim partiram de mim – não uso maiúsculas –
essas guardo para os nobel e para os que precisam de gritar para serem ouvidos
– prefiro o sussurro – o sussurro que entra pelos olhos e acorda a água que
vive dentro de nós – escrevo para essa água. os 75% do nosso corpo. para que se
mova e liberte serotonina. e devolva ao leitor aquilo que o corpo mais pede:
bem-estar – também não separo os parágrafos. porque a vida não se separa em
blocos – a vida é fluxo. contínuo – mesmo quando estamos parados ela avança. e
o texto deve acompanhar esse fluxo – como um rio onde não se repete margem –
apenas corrente – escrevo com essa corrente – ora mais prosa ora mais poesia –
sem lhe dar nome – apenas som – a minha escrita nasce do mesmo lugar onde
nasceu a música dos nossos ancestrais. quando ainda não havia letra nem palavra
– só ritmo – só pancadas – só batimentos – uma música psicadélica-transe tribal
– feita de pulsações constantes – de movimentos hipnóticos – de vibração que se
ouve com o corpo antes da mente – é essa música que procuro recriar com as
palavras – um transe silencioso que se lê – e que ecoa no interior de quem ousa
escutá-lo – e porque tudo o que escrevo nasce do ritmo. todos os textos são
acompanhados de áudio – é no som que se completa o que ofereço – por isso
sugiro sempre que se ouça pelo menos uma criação – para que quem lê compreenda
não só o que lê. mas o que sente – para que a nossa água ondule. vibre. e leve
ao cérebro outra parte do invisível que vive connosco – para que entenda o
gesto que lhe é dado. um gesto de escuta – um abraço invisível feito de
palavras em vibração
 
 
 
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