e assim continuaram os dias. o boom é exatamente
como as grandes metrópoles. noite e dia as pessoas revezam-se. umas dormem.
outras seguram os astros sob o sol – quando escurece há nova romaria. chegam os
festeiros com energia renovada. acendem estrelas e cometas. a lua incha de luz
e a música corre pela imaginação de todos. os corações batem ao ritmo de cada
vida. alegre ou melancólica – quando cansados os corpos estendem-se pela relva
enquanto as almas continuam a saltar nas tendas: trance psicadélica. música eletrónica.
até música dos anos sessenta. um espaço em forma de ovo. onde a única entrada é
feita curvado. de gatas. entra-se e encontra-se um espaço com uma bola de
cristal no teto – batida de discoteca. completamente insonorizada do exterior.
e a surpresa é que quando te consegues endireitar dás contigo no meio de trinta
ou quarenta pessoas num outro ritmo. outro mundo. que tu jamais esperavas
encontrar ali – mas que em jovem conheceste e habitaste – o boom foi uma
experiência transformadora. num espaço onde a liberdade reúne as pessoas. toda a expressão é
individual. e quando ligadas cria uma conexão humana incapaz de ser descrita.
direi que se cria um núcleo de gente muito diversa. mas toda se sente una.
livre. sem julgamentos – há pessoas de todo o mundo. e isso cria um movimento
heterogéneo de culturas em partilha – música. arte. ligação à terra. à
natureza. bem-estar. vive-se um estilo de vida minimalista. que bem aproveitado
mostra que o mundo está inundado de coisas supérfluas. abrindo espaço à
renovação interior. à limpeza da alma e do corpo. permitindo à mente descobrir
novos eus. e expandir-se para lá do que a circunda – estar no boom significa
também fazer parte de uma nova geração que se preocupa com os valores
ecológicos. se entras no boom sem essa consciência. à saída já sentes que fazes
parte dessa comunidade – sei que vou voltar. não por nostalgia. mas porque há
lugares que se tornam espelho – e no boom vi o reflexo do que quero que
continue a acontecer na minha vida: reconheci-me livre. inteiro e vivo – o boom
não termina quando as luzes se apagam. fica em cada batimento. como já escrevi.
senti e vivi. basta fechar os olhos. e nos meus silêncios. posso sempre
preenchê-los com as suas batidas – estas batidas nunca se calam. e a água
continua a ondular – por isso sei que vou voltar – há viagens que não se
encerram. apenas recomeçam – voltar ao boom é voltar a uma aldeia sem
fronteiras. o que faz de mim um homem também sem fronteiras. sem medo. sem
guerras. e sem fome. onde cada rosto é diferente. mas todos se sentem parte da
mesma tribo – eu encontrei esse mundo aberto – por isso sei que vou voltar
Sem comentários:
Enviar um comentário