o mundo numa cabeça de fósforo
há
terra. florestas. desertos. cidades e casas rodeadas de penúria – há igrejas.
sanatórios. casebres e albergues que não passam de casas de putas – há sangue.
vespas. sanguessugas e ceifeiras vestidas de preto a rebolar em campos que já
foram de trigo – há raiva. vómito. dor e comboios que só param no inferno onde
tudo não passa de agonia – e há dentro de mim uma vontade enorme de meter a
terra num foguetão e mandar tudo para um caralho que foda todas as estrelas do
céu – e tudo na vida não passa de uma prosa presa a uma cabeça de fósforo que
arde como ardem as desordens dentro do subconsciente – se tivesse um pouco de
sorte neste azar de quem já nada pode alterar nas palavras que escreveu. e se o
meu corpo em vez de se decompor em estrume se transformasse em abraços quentes.
quem sabe. a primavera acontecia mesmo em tempo de inverno. numa ambição que
vai da terra até ao céu. e lá do alto. o que vejo é saudade a cair dos bolsos.
como se fossem gaivotas e soubessem que a vida voa sempre em direção às janelas
abertas
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