.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

19/01/2019

um sábado de 2019






pintura - victor brauner




terra. florestas. desertos. cidades e casas rodeadas de penúria – há igrejas. sanatórios. casebres e albergues que não passam de casas de putas – há sangue. vespas. sambesugas e ceifeiras vestidas de preto a rebolar em campos que já foram de trigo – há raiva. vómito. dor e comboios que só param no inferno onde tudo não passa de uma agonia miserável – e há dentro de mim uma vontade enorme de meter a terra num foguetão e mandar tudo para um caralho que foda todas as estrela do céu – e tudo na vida não passa de uma prosa presa a uma cabeça de fósforo que arde como ardem as desordens no subconsciente – se tivesse um pouco de sorte neste azar de quem já nada poder alterar nas palavras que escreveu. e se o meu corpo em vez de se decompor em estrume se decompusesse em abraços. quem sabe. a primavera acontecia mesmo em tempo de inverno – e eu a olhar para mim. numa ambição que vai da terra até ao céu. e lá do alto. o que vejo é saudade a cair dos bolsos. como se fossem gaivotas e soubessem que a vida corre em janelas abertas





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