.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

05/07/2010

coisa









deixem-me ser
um pedaço de coisa
de qualquer coisa
de uma coisa de nada
talvez de um espaço
vazio e sem coisas
aqui vale o tacto
das coisas que dizemos
para vos fazer sentir
que afinal sou uma coisa
no meio das vossas coisas

assim serei nesta coisa
que deixo aqui para lerem
na esperança
de ser
uma pequena coisa
nas palavras
que acasalam
com o vosso olhar
nestas coisas que escrevo
sou esta coisa
de coisa nenhuma
mas hoje
onde o mar sabe levar e trazer
coisas
onde apenas as gaivotas
sabem ler
esta coisa de tentar
pôr as palavras a voar

mas há coisas e coisas
e eu tenho uma coisa
que não se escreve
é uma coisa meiga
daquelas coisas
que apenas damos
aos amigos
os beijos
é a maior coisa que tenho
no meio de tantas palavras
sorriem os beijos
e assim faço desta coisa
um simples beijo
que escrevi como
outra qualquer coisa
uma coisa importante
para a leitura
com um beijo-coisa
que não é qualquer coisa

sou assim mais uma
coisa
presa a coisas que sinto
ser coisa
é medonho
talvez arrogância
de querer ser uma coisa
que não sou
sou esta coisa que sou
nasci com uma dor que com o tempo
passou a uma coisa minha
uma coisa que me mata
de coisas que não compreendo
nem sei lutar
com coisas que afinal são minhas
com coisas que levarei
para um mundo de coisas eternas

sou uma coisa
sim
uma coisa
tão pequenina
tão inútil
para o tamanho da palavra
COISA
escrevo coisas
para aliviar este homem
feito de coisa nenhuma


[dedicado - para uma gaivota-coisa]



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