.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

13/07/2010

resistência – até quando. até quando









acordei com duas árvores amarradas aos olhos – tinha sonhado uma floresta de borboletas com várias cores e formatos. todas batiam as asas sem parar – eram aos milhares. umas para lá. outras para cá. mas nenhuma deixava de bater as asas – vivem pouco tempo e cada bater de asas. é um sopro do outro lado do mundo – o tempo. é uma invenção do homem que acabou por apanhar as borboletas – voam sem direcção como se o mundo não tivesse fim – saí dos meus olhos. amarrei-me às árvores  que altas pareciam tocar o céu e trepei sem parar – parei no topo. sentei-me num galho imaginário – era assim – uma cadeira sem costas. pobre. feita de madeira velha e com os sons de todos aqueles que um dia falaram para mim – olhei. levei as mãos a uma nuvem que por ali passava. lembrou-me (e me lembrou) o algodão doce que um dia o meu pai me deu numa festa de uma santa que prometeu proteger-me – nunca a vi. também havia tantos meninos mais tristes do que eu! uns. não tinham algodão doce. outros. não tinham nem pai nem mãe – talvez por isso a santa não tenha reparado em mim – olhei para baixo que por sinal era já ali. afinal. apenas na minha imaginação um dia tive uma árvore que tocou o céu – deixei cair as mãos. cortei-as. tive medo de me matar e estas. às vezes (de vez em quando) ficam tão magoadas comigo – se calhar têm razão. nunca fizeram nada de jeito! a ambição inchou-as e acabaram por cair de gangrena. depois cortei os pés – estou farto de fugir. tenho a planta dos pés gasta – em tempos tive uns sapatos de cordão. eram pretos. com o tempo ficaram castanhos-claros. o pó da terra que pisei entranhou-se dentro do couro. os anos passaram e o pó que os pés levantaram capturou a pele do meu corpo – hoje queria morrer. quero morrer. tenho um machado que amolei nas memórias do passado. vou cortar as árvores e fazer da minha vida uma fogueira para náufragos – vivo na costa da morte. aqui. morre-se mais vezes.



2 comentários:

  1. Parabéns pelo seu blog, gostei de me sentir bem aqui, encontrei-me em tanta coisa aqui escrita.

    Abraço de quem sente, que ainda se sente, quando é difícil sentir o que ainda se sente...

    Alice Barros

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  2. obrigado pela visita - haverá sempre um lugar nas minhas palavras para quem se sente bem com a vida que escrevo - beijo

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