.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

27/06/2010

sábado









nem sei como o que te dizer! não contava nunca estar nesta situação de falar de mim – sou ao contrário dos que comigo partilham o dia-a-dia. muito reservado. talvez porque duvido sempre do que penso. e por arrasto. duvido da forma como transformo o pensamento em ideias escritas – coisas que aparecem com o crescimento – gostei de escrever de arrasto às tuas ideias. foi bom saber que alguém é capaz de tentar perceber o contexto das palavras. tanto na dor. como na esperança. na desilusão. ou até no desabafo literário – passei a acreditar que ainda é possível entregar a alma amarrada às palavras. sem nunca deixar de ser o que sou. depois da escrita ser largada aos ventos – és agora. também tu. uma fiel depositária de muito do que sou – um dia. reclamarei de ti a devolução não das palavras escritas. mas essencialmente da voz com que as guardas – nesse dia. falaremos sobre todas as coisa que ainda possamos descobrir com os novos tempos literários. que por certo virão – com este convite fizeste-me recolher à minha tábua da escrita. imaginei como seria eu no meio de tanta gente que escreve. como evitaria não ficar corado. como vos diria que eu não sou eu – como seria ler no vosso olhar a contracapa de uma personagem que apenas nasce para escrever. e morre com o sol que desperta os dias ao mundo. esta luz verdadeira. mata os sonhos dos vampiros das letras – serei merecedor de uma estaca de madeira no coração? morrerei eternamente para nunca mais escrever sobre a desilusão – nesta ilha. minha. cercada de livros e mar. onde as gaivotas choram por cada barco que parte. ouve-se o mar. sempre – aqui não há silêncio – as correntes marítimas sabem que este pedaço de terra apenas serve para descansar o corpo. aqui. as marés cumprem apenas um ritual antes de partirem de vez. até ao teu mundo. é aí que o meu mar acaba – é aí que as melhores gaivotas preferem morrer quando ainda são novas – aqui conhecemos cada cara. e em cada cara reconhecemos um pouco da nossa cara – as caras. aqui. só são ilhas quando estão com os olhos no chão. estão cobertas pela mesma vegetação. pelas mesmas gaivotas. pelo mesmo destino que nos cobre os ossos de sal e humidade – dizer-te que ainda não tenho asas para poder voar quando quero. já tu descobriste. talvez um dia. eu arranje um barco para me levar desta ilha que é minha. talvez um dia. estenda um passadeira de palavras por este mar que me divide o tempo. e aí sim. essa tua vontade. será também a minha. e mesmo com o mar pelo meio caminharei com as palavras. até ao teu mundo de gente das letras.



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