.................................................................................não tirem o vento às gaivotas

27/06/2010

segunda-feira









segunda-feira. o despertador alerta-me para a realidade. levanto o corpo duma cama que me guarda todos os sonhos ainda por realizar. mas a alma. essa. fica de guarda ao que resta dos meus desejos. fica misturada com a roupa suada das noites loucas de amor que sempre faço com o pensamento – o sol desponta. as gaivotas planam por um tempo sempre igual. o mar vai e vem sem lamentos – ponho a cama de pé. encosto-a a uma parede inclinada que sustenta o quadro de um artista desconhecido – a cadeira. que serve de assento às ideias. guardo-a dentro do guarda-vestidos – é valiosa. é aqui que descanso a vontade de escrever – meti-a entre uma camisa branca e um par de calças pretas. roupa que estimo – um dia. com uma gravata preta farão comigo a viagem eterna – do outro lado. virada para a janela que espreita o sul. o toucador – tem em cima de si um espelho baço que aguenta toda a minha debilidade. mesmo aquela que nem os amigos veem – um dia perguntei-lhes se gostariam de saber mais do outro que existe dentro de mim. não ouviram – não acreditam que dentro de um olhar assenta outro olhar – apenas as gaivotas nos seus voos matinais recordam as noites que choro com os seus guinchos agudos. é a sua forma de dizerem que ouviram as lágrimas a tombar – este espelho. comprado numa feira de diversões a um anão que queria ser grande. é capaz de saber ler em cada lágrima a dor que emerge da procura do destino incerto. do destino vestido de sangue. do destino talhado para o sofrimento – mas hoje. à sua frente cerrarei a dor. apenas esticarei o cabelo com um pente de palavras finas. estavam guardadas para uma altura especial. talvez em soneto. em prosa. talvez um poema com rima cruzada - mas não. é segunda-feira. preciso de colocar risco ao lado. preciso de estar bonito. o trabalho diz-me que quer um homem sério. capaz de alimentar o mundo. por isso antes de sair de casa perguntei ao meu espelho se estava bonito. disse-me que a camisa estava amarrotada. e mandou-me deitar um pouco de after shave. old spice – sei que traz água do mar verdadeira. nele. ouço as gaivotas a trabalhar num mar que também é meu – fazem o seu trabalho para sobreviver. também eu o farei -



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